O Vingador Invisível (1945)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

Para fugir do nazismo em seu país natal, o grande mestre francês René Clair (1898-1981) foi para os EUA, onde fez uma honrosa sucessão de filmes, antes de voltar para casa após a guerra. Esta adaptação de "O Caso dos Dez Negrinhos", de Agatha Christie, a primeira versão para o cinema do livro, foi o último dessa série de Clair.

Com roteiro fiel ao estilo da escritora inglesa de Dudley Nichols ("O Delator" e "No Tempo das Diligências", de John Ford), narra com ironia as aventuras de um grupo de dez estranhos que vão a uma ilha isolada encontrar um anfitrião misterioso.

Mas todos cometeram crimes no passado e vão sendo eliminados da maneira descrita por uma canção infantil sobre dez indiozinhos (originalmente no livro eram negrinhos, mudado nos EUA para não ofender ninguém) que morrem um a um. Precisam, então, descobrir quem entre eles é o assassino.

Mesmo com bom elenco, a produção modesta teria resultado em um filme banal nas mãos de um artesão americano. Mas Clair valoriza tudo com uma direção elegante e cuidada, atenta ao detalhe e às sutilezas das relações entre os personagens, todos rapidamente bem caracterizados e interessantes.

Os fãs mais puristas da escritora talvez fiquem incomodados com certos momentos de humor, com a extrema discrição (característica da época) da encenação dos assassinatos, com as alterações dos personagens e em especial com o hollywoodiano final feliz, modificando sensivelmente o livro (apesar de a própria autora, ao adaptar o livro para o palco, também ter adotado uma solução diferente, mais banal). Um pouco raro, daí ser perdoável a cópia apenas mediana, tirada de uma matriz maltratada.