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Ficha completa do filme

Comédia

O Xangô de Baker Street (2001)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
O Xangô de Baker Street

Depois de ficar três anos em produção temia-se o pior. Mas a versão para o cinema do best-seller homônimo de Jô Soares está longe de ser o desastre anunciado. Ao contrário, seu generoso orçamento, ao que parece de 10 milhões de reais, está na tela, com uma direção de arte e figurinos dos mais bem cuidados e suntuosos que já teve o cinema brasileiro. E se obviamente há problemas - de tal forma que na finalização enxertaram um resumo biográfico dos personagens da história, narrado sem crédito, por Ney Latorraca, porque alguém certamente achou que estava tudo muito confuso - nada porém que comprometa o resultado. Talvez não seja o esperado e desejado estouro de bilheteria. Mas é uma fita digna e respeitável.

Parte dos problemas parecem se dever ao roteiro que acentua o lado policialesco da história. Francamente não havia necessidade de certos detalhes de violência e sangue inclusive (ou principalmente) na mesa do médico legista Emiliano Queiroz (embora a cena com o fígado da vítima seja uma tentativa de se fazer humor negro, que o resto do filme não acompanha). Assim se por um lado se corrige uma falha do livro (onde não havia o encontro entre Sarah Bernhardt e Holmes) não consegue encontrar o tom certo para contar a história.

Uns poucos estão fazendo comédia principalmente Marco Nanini (assim como Jô e Agildo em suas pequenas aparições) enquanto todos os outros levam os personagens muito a sério, dramáticos demais. Ou seja, a condução dos atores é extremamente irregular. Para mim Nanini é que estaria certo seguido pelo ator português Joaquim de Almeida que faz uma honrosa tentativa de se comportar como Sherlock Holmes embora não tenha o físico ou o estereotipo para o personagem. Estou supondo que não seja preciso resumir a história já que o livro é tão famoso.

Mas basicamente a idéia de Jô é fazer uma brincadeira (inteligente, obviamente) aproveitando um fato histórico - realmente a maior atriz dramática de sua época Sarah Bernhardt esteve no Brasil em 1886 e se apresentou na Corte do Rio de Janeiro para D. Pedro II - e misturando com personagens fictícios (mas que já estão em domínio público, no caso, o detetive inglês Sherlock Holmes e seu parceiro Dr. Watson, criados originalmente por Sir Conan Doyle).

Quando D. Pedro (feito por Claudio Marzo de maneira convincente) conta para Sarah o problema que tem com o roubo de um violino Stradivarius de sua amiga nobre (Claudia de Abreu), decidem chamar Holmes ao Brasil para resolver o caso que acaba se confundindo com outros assassinatos em série. Tudo isso dá margem para o texto brincar com alguns costumes brasileiros, que vão de certa maneira "devorando" o detetive estrangeiro inclusive fazendo-o perder a virgindade (a fita insinua várias vezes com um possível caso gay entre ele e Watson).

Desde a feijoada, a invenção da caipirinha (uma das melhores piadas), a mulata, a maconha, o jeitinho, a macumba, concluindo com uma resolução muito inventiva e inesperada para o caso. A variação de tom na narrativa prejudica também a portuguesa Maria de Medeiros, em geral uma excelente atriz que não consegue emular o estilo ou a maneira de interpretar da Divina Sarah (fazendo um tipo de teatro moderno demais para a época). Deixa-se também de lado o fato de que teria sido no Brasil que ela se feriu ficando doente de uma perna para o resto da vida.

Enquanto isso, o ator que interpreta Dr. Watson, que está muito fraco o filme todo, de repente se revela e dá um show na seqüência do candomblé. Ou seja, já que veio de Jô Soares era legítimo se esperar um filme mais para a comédia e menos para o suspense policial. O resultado é uma fita razoável. Divertida. Mas não tanto.

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