UOL Entretenimento Cinema

Ficha completa do filme

Policial

Os Intocáveis (1987)

Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Colaboração para o UOL 16/07/2010
Nota: 4
Os Intocáveis

Em três momentos de "Os Intocáveis", crianças e armas são colocadas em perigosa proximidade (e num deles, o primeiro, o perigo se realiza). É quando fica mais evidente a mão do diretor Brian De Palma, para quem inocência e violência caminham lado a lado. De Palma conseguiu imprimir sua visão cruel do mundo e seu catolicismo trágico num projeto bastante comercial ? que ele chama, num dos curtas que vêm como extras do DVD, de "grande filme de estúdio". O filme se inspira na antiga (1959-1963) série de TV homônima centrada num personagem real, o agente Elliot Ness, e sua cruzada contra os gângsteres de Chicago nos anos 1930.

A versão de De Palma, com Kevin Costner como Ness, se concentra no cerco a Al Capone (Robert De Niro), que domina o tráfico ilegal de bebidas durante a época da Lei Seca e manda na cidade, comprando todo mundo: prefeito, vereadores, policiais, procuradores e juízes. O maior desafio de Ness é conseguir reunir um grupo de colaboradores não-contaminados pelo sistema. Acaba reunindo três: Malone, um policial irlandês incorruptível e por isso relegado a fazer a ronda noturna das ruas (Sean Connery, no papel que lhe deu o Oscar de melhor coadjuvante), um aspirante a policial bom de tiro (Andy Garcia) e um contador (Charles Martin Smith) que está levantando informações para pegar Capone como sonegador de impostos, já que, por causa da "rede de proteção" armada pelo gângster, não há como levar suas atividades mafiosas à Justiça. Como se sabe, foi assim que Capone acabou preso de verdade.

De Palma emprega seu talento para decupar e coreografar cenas em várias sequências brilhantes, quase todas violentas (embora a concorrência tenha atenuado o aspecto sangrento do filme com o passar do tempo). Há o jantar de Capone com seus capangas, a morte de Malone, o tiroteio no topo do prédio, a emboscada na fronteira do Canadá (filmada como faroeste) e um curto trecho de ópera que é puro De Palma. Acima de todas está o enfrentamento na estação de trem, com sua reprodução da sequência das escadarias de Odessa de "Encouraçado Potemkin", de Eisenstein.

As partes não se igualam ao todo, porém. De Palma tenta manter sua abordagem paródica e agressiva ao mesmo tempo que aceita várias regras do blockbuster, o que resulta em alguns avanços do roteiro serem bastante inconvincentes, a começar pela aproximação entre Ness e Malone. O triunfalismo com que os quatro "intocáveis" são apresentados e a insistência nas insossas cenas de família também trazem um atrito desagradável para o andamento do filme. Mesmo assim, continua sendo um programão.

Como é hábito na coleção Clássicos Paramount, a edição é muito boa, com tela larga, de acordo com o original, e cópia de excelente qualdidade (se as cores parecem puxadas um pouco demais para o marrom é porque era moda na época).

Os extras incluem um curta novo em quatro partes que mistura entrevistas antigas e recentes, outro curta lançado na mesma época do filme e o trailer original. O material traz informações interessantes, mas durante a maior parte do tempo se resume a auto-elogio.

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4

Finalmente sai a tão esperada edição com extras do filme já clássico "Os Intocáveis", mesmo sem depoimentos novos de Kevin Costner, Robert de Niro, Andy Garcia ou Sean Connery (as entrevistas ali são antigas).

Em compensação, o diretor Brian De Palma não tem papas na língua assim como o produtor Art Linson e o ator Charles Martin Smith. E o material foi feito pelo melhor diretor de making of, Laurent Bouzereau.

Na época do seu lançamento (1987), "Os Intocáveis", versão para o cinema da série homônima de TV (1959-62), estrelada originalmente por Robert Stack, teve grande sucesso. Mas piorou um pouco com o passar do tempo, talvez pela antipatia provocada por Kevin Costner, que no papel central está apenas apático. E o filme contribuiu para ele atingir status de superstar, ao menos por uns tempos.

A famosa seqüência do tiroteio na estação de trem (que procura fazer uma homenagem à cena das escadarias de Odessa de "Encouraçado Potemkin") conserva seu impacto. Para muita gente este foi o melhor filme de Brian De Palma, que ganhou apenas um e merecido Oscar, o de ator coadjuvante para Sean Connery, naturalmente eficiente e simpático como o velho policial irlandês -com sotaque escocês- que se une a Ness.

O filme tem o toque do diretor, um mestre em provocar emoções, em conduzir o espectador para onde ele quiser. Mas De Palma confessa que não gostava da série de TV e que aceitou fazer o filme porque precisava de um êxito de bilheteria porque sua carreira andava mal.

O que se pode dizer de um filme que começa com uma menina pegando uma mala que contém uma bomba? Depois de explodir uma criança, tudo é possível. Com uma câmera móvel e inquieta, De Palma fez outras cenas famosas: o bandido que entra na casa de Connery para atacá-lo, o tiroteio no elevador, Ness enfrentando o criminoso no final.

Há também grandes efeitos técnicos para a época (Capone e o cantor em foco em primeiro plano, lembrando "Cidadão Kane"), uma excelente trilha musical de Ennio Morricone, o roteiro do grande dramaturgo David Mamet, figurinos de Giorgio Armani e muito suspense.

De Niro faz Capone careca depois que Bos Hoskins foi demitido quando já era contratado para o papel -isso está nos extras.

A edição competente mas não excepcional traz os extras, todos legendados em português: o Script, o Elenco; Histórias da Produção, Reinventando o Gênero, O Clássico, making of original da época, trailer original.

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