Nunca imaginei que fosse gostar de um filme sobre skate, repleto de drogas e situações que poderiam ser vistas como mau exemplo. Mas já tinha apreciado o bom documentário "Dogtown and Z-Boys", 2001, disponível em DVD, feito por Stacy Peralta, que é justamente um dos personagens do filme aqui que se propõe a contar, agora com atores, como surgiu o fenômeno que acabou tornando o skate um dos esportes mais populares da América (se não o mais atualmente).
Tudo meio sem querer, nascido justamente com um grupo de adolescentes pobres, dos quais Peralta era um deles (John Robinson). O roteiro conta, sem maquiagem, com verrugas e tudo, o lado bonito e feio da saga, numa história muito bem narrada pela diretora Catherine Hardwicke (que veio do sucesso "Aos Treze").
Mas tudo está no lugar certo: a escolha do jovem elenco (ou desconhecidos, ou quase novatos como um dos meninos de "Elefante") junto com veteranos como Rebecca de Mornay (que está voltando ao cinema agora matrona) e o australiano Heath Ledger, tentando provar que é ator competente e não se sai mal no papel de um dono de loja de surfe, que se torna o drogado líder da turma.
Embora a fita não tenha ido bem nos EUA, talvez por culpa da caretice atual deles (custou 25 milhões e rendeu apenas 11), ela conta tudo direitinho, como o fenômeno surgiu no bairro de Venice, perto de Los Angeles, na parte pobre do lugar, nos anos 70, quando um grupo de rapazes não conseguia espaço para surfar e foi obrigado a inventar alternativas.
Uma delas foi aproveitar uma seca que estava acontecendo e utilizar como pista as piscinas vazias (a pedido do governo) da vizinhança (que eles invadiam). E de repente se tornaram celebridades nacionais, capa de revista e inventaram os truques que todo adolescente sonha em repetir.
Basicamente o filme é a epopéia, nem sempre brilhante, de como eles começaram, tomaram diferentes caminhos, participaram de competições, alguns se tornaram estrelas, outros se perderam pelo caminho. Sempre com jeitão de semi-documentário com música de rock da época de fundo, sem moralismos (mas também sem fazer apologia da cultura da droga que estava em seu auge).
A fita era para ser feita por David Fincher ("Clube da Luta") e seu assistente Fred Durst, mas não poderia ter ficado em melhores mãos do que com Catherine, que lhe deu o tom certo. O verdadeiro Peralta faz uma pontinha como o diretor do episódio de "As Panteras". Vale a pena conhecer.