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Ficha completa do filme

Comédia, Drama

Os Vigaristas (2000)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 0
Os Vigaristas

Colocar Nicolas Cage no papel de um chato já é uma redundância. Mas até eu que não o aprecio, sou obrigado a concordar que Cage está em um de seus melhores momentos sob a direção de Ridley Scott ("Gladiador"; "Blade Runner") neste "Os Vigaristas", onde faz um neurótico compulsivo, que tem tiques, mania de limpeza, medo de lugares abertos. Mas que, mesmo assim, é um bem-sucedido vigarista, que mora numa boa e confortável casa, onde pode se refugiar do mundo, enquanto prepara ocasionais golpes com seu parceiro e protegido (Sam Rockwell, de Confissões de uma Mente Perigosa). Eles são os heróis deste filme menor mas divertido que novamente demonstra que Scott não leva sua carreira de autor à sério.

Desta vez aceitou uma produção alheia (assinada por Robert Zemeckis de "Forrest Gump"), com um roteiro curioso mas que já prenunciava uma bilheteria medíocre. Ou seja, para ele é apenas um mero exercício de estilo, onde pode colocar sua equipe fazendo um projeto que tem uma fotografia bonita e solar (lembrando a Califórnia das pinturas de David Hockney), uma trilha musical nostálgica que alterna canções de Frank Sinatra - e que sempre recordam os anos 60 - com composições onde Hans Zimmer propositalmente cria um clima de comédia italiana (lembrando muito as trilhas de Nino Rota). Na verdade, como visual e acabamento, o filme lembra muito "Prenda me se For Capaz", de Spielberg, a tal ponto que a gente fica na dúvida se é uma história de época ou atual. Ou seja, confirma-se mais uma vez a competência de Scott como realizador (como se ainda houvesse alguma dúvida, o que se estranha é sua falta de ambição autoral). Inclusive na condução de elenco. Cage nunca esteve melhor (nem mesmo recentemente em "Adaptação") e mais uma vez se percebe a excelência desta revelação que é Alison Lohman (de White Oleander), a Tuesday Weld atual, uma garota de 24 anos capaz de interpretar brilhantemente uma menina de 14. Ela está extraordinária no papel da filha de Cage, que ele descobre tardiamente mas que parece lhe dar um novo sentido à vida, inclusive lhe ensinando os truques do ofício.

O filme mais do que uma comédia tipo "Os Safados" (com Michael Caine e Steve Martin) ou mesmo "Lua de Papel" (onde havia vigaristas pai e filha, Ryan e Tatum O'Neal), é um estudo de personagens, de situações, de personalidades. Não chega a ter uma trama muito forte porque se preocupa mais em explorar psicologias, com personagens muito bem construídos e justificados. Claro que tem reviravoltas, cenas de ação e surpresas (a última chega até a ser um pouco sentimental), mas tudo isso está submetido ao protagonista (por falar nisso, o título em inglês é apenas um sinônimo para trapaceiro). Ou seja, não chega a glamurizar o roubo. Ao contrário, humaniza o vigarista sem cair em clichês, contando com um belo visual e um excelente elenco, uma história que demora a engatar mas que ao final acaba conquistando o espectador. Scott não decepciona.

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