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Ficha completa do filme

Drama

Papparazzi (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 1
Papparazzi

Pior do que um filme sem caráter, este "Papparazi" é mau-caráter mesmo. É outra prova de que Mel Gibson está caminhando para a demência. Como produtor, ele resolveu contratar seu cabeleireiro (que cuidou do cabelo dele nos três "Máquinas Mortíferas") e lhe dar a condução deste filmeco onde quer destruir aquela parte da imprensa que importuna sua vida (e certamente por vezes deve irritar e perturbá-lo).

O curioso é que ter como diretor esse incompetente, no sistema de Hollywood não faz a menor diferença, porque os técnicos são tão competentes e os atores auto-suficientes, que o filme caminha por si só. Já faz muito quem não atrapalha. Dizem que Gibson disse literalmente: "Que grande vingança (contra os jornalistas) este filme irá ser".

E ele chegou a querer contratar outros atores que são famosos por sua posição contra esse tipo de jornalismo (como George Clooney, Tom Cruise, Kurt Russell). Mas acabou com um atorzinho do segundo time que normalmente faz vilões, que é Cole Hauser (para os fãs de vídeos de ação é curioso lembrar que ele é filho do ator Wings Hauser e bisneto de Harry Warner, fundador dos estúdios Warner). Gibson além de produzir também faz uma pontinha como um paciente esperando pelo médico.

Como a maior parte das pessoas sabe, foi Fellini quem popularizou o nome (que em italiano quer dizer mosquito) no seu filme "La Dolce Vita" (1960), quando foi o primeiro a mostrar aquele tipo de fotógrafo de rua, que segue celebridades em busca de flagrantes que depois pode vender para revistas de escândalo (a única coisa que mudou hoje em dia é que as revistas viraram de celebridades, mais amenas e mais aceitas).

Há brigas homéricas e clássicas dos famosos (Sean Penn, Johnny Depp) que estouraram e partiram para a porrada contra eles. E por vezes, até tiveram que pagar por isso. Já vi na tevê por assinatura um especial onde se celebra a profissão, mostrando como eles perseguem incessantemente qualquer pessoa famosa, sem ter o menor escrúpulo. Ou seja, estão longe de serem santos. Mas também não é por causa disso que merecem ser mortos e destruídos ou vilipendiados. Como sucede neste filme.

Basicamente é uma fábula contra os jornalistas (outra classe que Gibson provoca depois dos judeus), na história maniqueísta de um astro de fitas de ação (Cole) chamado Bo Laramie. Numa circunstância que lembra muito o caso da Princesa Diana, a mais notória vítima dos papparazzi, o herói com sua família sofre um acidente de carro e em vez de socorrê-los, correm para tirar as fotografias.

Se isso é errado, é igualmente incorreto agir como faz Bo, que elabora um plano complicado e temerário de se vingar deles. E sair impunemente, no que os críticos apontam como uma cópia da situação de "O Jogador" ("The Player", de Robert Altman, 1992). Naturalmente o líder deles, feito por Tom Sizemore, é um sujeito nojento, da pior qualidade.

No Brasil, felizmente a profissão de fotógrafo é menos cruel e geralmente realizada com a cumplicidade dos envolvidos (não se esqueçam que os artistas precisam também dos fotógrafos, de onde advém sua popularidade ou ao menos a capacidade de estarem sempre nas capas de revistas).

Arrogante e amoral, também absurdo (como Bo cresceu na carreira sem a ajuda da imprensa? Impossível), o filme pelo menos foi merecido fracasso de bilheteria (mas Mel tem muito o que gastar depois da Paixão, não chorem por ele. Dizem que agora vai rodar um filme em dialeto maia). No final das contas, segundo a fita, ser astro de cinema não é apenas ter mansões e carrões, mas também poder matar impunemente. Argh.

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