A "Coleção Greta Garbo" (1905-90), lançada no Brasil em dois volumes, traz no primeiro ("Grande Hotel" é o único que é relançamento) este que é o melhor filme e melhor momento dela como atriz. Mas nem teve indicação ao Oscar por ele. O papel lhe cai como uma luva.
Qualquer observador mais atento irá perceber sua androginia. Repare no seu jeito de andar, na maneira em que ela enfrenta a multidão e como se faz passar por homem sem que ninguém desconfie. A seqüência mais erótica do filme sem dúvida é quando ela tenta guardar em sua memória para sempre os objetos do quarto onde ela conheceu o amor, um momento que foi marcado por metrônomo pelo diretor Rouben Mamoulian, para ficar com o ritmo certo.
Aliás, ele era um grande cineasta, que tornou mais fácil a transposição para o cinema falado e teve grandes sacadas como a cena final (onde pediu a ela que fizesse expressão neutra, sem pensar nada, porque tinha certeza que o público imprimira nela o que estava pensando).
Garbo estava então no auge do poderio na MGM, exigindo que o estúdio despedisse o novato Laurence Olivier e contratasse em seu lugar o decadente astro do cinema mudo John Gilbert (com quem tivera um longo romance, mas nunca quis se casar com ele. Eventualmente Gilbert se tornaria alcoólatra e morreria muito cedo em 1936 com apenas 36 anos). Mas se tiver que escolher um filme da Divina, que seja este.