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Ficha completa do filme

Drama

Saló ou 120 dias de Sodoma (1975)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 08/06/2009
Nota: 4
Saló ou 120 dias de Sodoma

Quando morreu aos 53 anos, Píer Paolo Pasolini (1922-1975) deixou inédito seu filme mais atrevido, aquele que é realmente seu testamento artístico. Também na arte ele parecia ter chegado a um beco sem saída, a um extremo: a escatologia de "120 Dias de Sodoma" e da obra de Sade.

Quase como que previsse a sua morte eminente, numa macabra forma de auto-destruição ou expiação à la Jean Genet, resolveu adaptar uma obra radical e polêmica ainda hoje, e ainda mais na época. O livro, por sinal inacabado, mostra um grupo de nobres ricos e decadentes que se reúne para gozar até os últimos limites.

Esta versão se passa em 1944, já no fim da Segunda Guerra, na chamada Republica de Saló, fascista mas sob menos influência dos ocupantes nazistas do que o resto do território italiano. Eles pegam à força os rapazes e moças jovens que desejam para seus desígnios monstruosos. É uma sucessão de orgias progressivamente sado-masoquistas que vão ficando cada vez mais delirantes, chegando à escatologia extrema.

O filme, que não se dá nem ao trabalho de creditar o autor Sade, conta com os colaboradores habituais de Pasolini, que são o figurinista Danilo Donati, o músico Ennio Morricone, o cenógrafo Dante Ferretti e o fotógrafo Tonino Delli Colli. A grande sacada é transpor a ação para o fim da era fascista, justamente quando, por pouco tempo, floresceu a pouco conhecida Republica de Saló.

Nesta cidade do norte da Itália, quatro dignatários, os libertinos, se trancam num palácio com 16 jovens de ambos os sexos, mostrando como eles vão passando pelos diversos círculos do inferno de Dante e Sade, o das manias, o de sangue, fezes.

Não é um filme fácil ou agradável, embora não seja explícito nem vulgar. Pasolini parecia consciente de que tinha seus dias contados (ele foi assassinado por um garoto de programa numa praia perto de Roma) desafiando os últimos preceitos da moral vigente. Se é chocante hoje, imaginem então há mais de 30 anos. Chega mesmo aos limites do que é arte ou cultura.

Não é nem pretende ser um filme erótico, embora tenha muita nudez frontal, é até um filme triste, observando de forma fria uma humanidade que se autodestrói. Desta vez, Pasolini não está no elenco, formado por atores de teatro e desconhecidos. E que de certa maneira se interrompe como o livro com uma seqüência bastante poética. Mas é barra pesada. Cópia boa.

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