Não era admirador especial do diretor Paul Thomas Anderson,. Mesmo depois de "Magnólia", esperava ainda uma prova de seu talento, o que acabou acontecendo agora com este seu impressionante e poderoso "Sangue Negro".
Parece que depois da comédia "Embriagados de Amor" (2002), com Adam Sandler, ele resolveu dar uma virada na carreira, optando por uma espécie de 'anti-épico' de época, até difícil de descrever, baseado em livro de Upton Sinclair.
É uma historia sobre ambição, religião e petróleo, ocorrida no começo do século, sobre e um aventureiro que busca fortuna, Daniel Plainview (Daniel-Day Lewis). Mas nada é convencional, nem contado de forma banal. Anderson diz que assistiu a "O Tesouro de Sierra Madre", de John Huston, todas as noites para fazer este filme e realmente é perceptível certas semelhanças. Embora seu final seja meio estranho e tenha sido muito criticado - fator em comum com seu concorrente no Oscar, o filme dos irmãos Coen "Onde os Fracos Não Têm Vez".
O protagonista teria sido inspirado num famoso magnata de petróleo chamado Edward Doheny. O enredo pouco tem a ver com a visão socialista do livro original. Mas é impossível imaginar o filme sem a presença de Daniel-Day Lewis, no auge de seu carisma, criando uma figura magnífica e dominadora. Por este papel, mereceu o Oscar de melhor ator, sua segunda estatueta.
Fora da narrativa tradicional, conta-se nos primeiros 15 minutos, quase sem diálogos, a ação de um minerador que procura prata e depois petróleo. Há um salto para 1911, quando ele tem um filho, algum dinheiro e vai procurar poços em áreas rurais. Consegue os direitos de uma família muito religiosa para explorar sua propriedade, garantindo assim a base de sua fortuna.
Rodado no Texas, na mesma região em que foi gravado "Assim Caminha a Humanidade" e o filme dos Coen, tem um belo desenho de produção de Jack Fisk, relembrando o tempo em que o petróleo era o Ouro Negro. Notável também a trilha musical inovadora e fora do comum de Jonny Greenwood, do Radiohead, que não pôde concorrer ao Oscar porque utiliza também temas já pré-existentes.
Numa primeira visão, é difícil dissecar bem o que torna o filme tão forte e fascinante, mesmo com um protagonista sociopata. Este é um filme para rever, já consciente de sua grandeza. O que explica o fato de que foi indicado ainda ao Oscar de filme, direção, direção de arte, edição de som, roteiro adaptado e montagem. Levou o prêmio de fotografia, para Robert Elswit ("Boa Noite e Boa Sorte" e "Syriana").