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Ficha completa do filme

Drama

São Paulo Sociedade Anônima (1965)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
São Paulo Sociedade Anônima

Finalmente volta à circulação este grande clássico do cinema brasileiro, a obra-prima do diretor paulista Luís Sérgio Person (1936-76), que morreu prematuramente num acidente de carro. O DVD traz uma excelente cópia restaurada, obtida graças ao empenho de sua filha, a jornalista Marina Person. É um dos poucos filmes que souberam captar as contradições de São Paulo, retratada em seu momento de grande expansão, no final dos anos 50, quando as indústrias automobilísticas multinacionais se estabeleceram na cidade, criando uma classe média emergente e com um novo estilo de vida.

Walmor Chagas (em grande atuação em sua estréia no cinema) faz um jovem gerente de uma fábrica de autopeças que prospera à sombra das grandes indústrias, dirigida por um empresário pouco honesto (Otelo Zeloni). Ele vai progressivamente se angustiando com os rumos de sua vida. Ao mesmo tempo tem conflitos com as três mulheres de sua vida: uma moça burguesa e ambiciosa com quem se casa (Eva Wilma, jovem, bela e talentosa), outra disposta a se entregar para subir na vida (Darlene Glória, dublada por Rosamaria Murtinho e já fascinante) e uma intelectual amarga e existencialista (a estrela espanhola Ana Esmeralda).

O filme já começa muito inspirado, mostrando uma briga do casal pelo lado de fora do vidro, tendo a cidade como testemunha, como voltará a ocorrer várias vezes ao longo da história. Tecnicamente impecável, com narrativa entrecortada e montagem brilhante, uso habilidoso da câmera e trilha musical elaborada, "São Paulo Sociedade Anônima" funciona também como registro minucioso da metrópole nos anos 60, ainda tranqüila para os padrões atuais.

Mas é o espírito caótico e devorador da cidade que o roteiro (do próprio Person) foi capaz de captar, mostrando com crueza o que ela oferece e o que cobra de volta, o preço humano da industrialização e da mecanização da vida e das relações sociais. O filme tem ainda momentos clássicos e que resistiram ao tempo: a silhueta de Ana diante da imagem da cidade, o começo, em que o casal dialoga em lugares diferentes, e a visita à mãe com clima felliniano.

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