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Ficha completa do filme

Suspense

Sob o Domínio do Mal (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
Sob o Domínio do Mal

Há casos raros de filmes que melhoraram com a idade, este é um deles. Visto na estréia, era basicamente um thriller assustador, com muito suspense. Depois do assassinato dos Kennedys, seus amigos particulares e o co-produtor Sinatra retiraram este filme de circulação, só liberando-o no fim dos anos 80, quando foi consagrado como um dos grandes thrillers de sua época e que teve um papel premonitório do tipo de violência que iria explodir na América logo depois.

Baseado em best-seller de Richard Condon, o filme foi produzido com a aprovação tácita do presidente John Kennedy, que se interessou pelo projeto (sua curiosidade era saber quem iria interpretar a mãe) e diziam que era de seus filmes preferidos. Isso porque o presidente da United Artists na época, Arthur Krim, considerava o livro propaganda anti-americana.

Sinatra dizia que este era um dos filmes de que mais tinha orgulho (uma ótima experiência, que só acontece uma vez na vida), creditando seu sucesso ao fato de que todos acreditavam no projeto. O fato da censura da época não permitir muita violência foi até favorável, porque assim encontraram outras formas de exibi-la, sem nada explícito. Na luta de karatê, uma das primeiras do cinema americano, com Henry Silva, Sinatra quebrou o dedo mínimo quando o parceiro esqueceu de uma reação e ele bateu em cheio numa mesa.

Janet Leigh (1927-2004) tem um papel ingrato porque entra apenas na metade do filme e o diretor apenas a orientou para que conquistasse mesmo assim a simpatia da platéia, porque era essa a função de seu personagem. Angela Lansbury, que faz a mãe de Laurence Harvey (1928-73), tinha apenas um ano a mais que ele (outras fontes garantem que a diferença é de três anos, ainda assim é impressionante). Ela foi (merecidamente) indicada ao Oscar de Coadjuvante: é uma interpretação arrebatadora, das melhores da história do cinema, que em poucas cenas, faz uma das vilãs mais poderosas que já se viu numa tela (ela não ganhar o prêmio foi um dos grandes absurdos da Academia).

Também a tentativa de assassinato de um candidato numa convenção é de tirar o fôlego (e depois previu o que sucedeu com Robert Kennedy). Desde as primeiras cenas comprova-se a grande forma em que estava o diretor Frankenheimer, que na época fez outros grandes filmes, orquestrando as cenas e as performances sem um único deslize.

Ele consegue inclusive nos convencer com Harvey (1928-73), um ator lituano criado na Inglaterra que sempre resultou frio e antipático. É justamente isso que trabalha a seu favor aqui, onde ele tem que fazer o personagem mais enigmático, justamente o filho de políticos que foi treinado pelos comunistas coreanos para ser um assassino.

Foi uma grande idéia usar nos flashbacks, que também são pesadelos, a cena da convenção entre os coreanos, relembrada como se fosse uma festinha de velhas senhoras de Nova Jersey. Não chega a ser tão político quanto um resumo pode parecer, é mais uma história de suspense, muito bem amarrada e que segura a tensão até o clímax inesperado.

Mas quem realmente tem uma presença magistral é Angela Lansbury, como a mãe-megera mais maquiavélica, fria e cruel de todos os tempos (mas ao mesmo tempo se percebendo, por trás do rosto dela, a tragédia de que ela também é vítima). Foi muito bem refilmado em 2004 com Denzel Washington no papel de Sinatra e Meryl Streep no lugar de Angela Lansbury, com excelentes resultados. Merecia edição melhor, com making of retrospectivo, como já existe nos EUA. Esta não traz nada.

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