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Ficha completa do filme

Drama

Sobre Meninos e Lobos (2003)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
Sobre Meninos e Lobos

O título nacional aproveita o de sua tradução em livro, poético sem dúvida, mas pouco comercial. No original é "Mystic River". Mystic é o nome de um rio que existe em Boston, numa região bastante pobre da cidade e que deu origem a um best-seller de Dennis Lehane que foi adaptado por Brian Helgeland ("Los Angeles, Cidade Proibida"; "O Troco") para a direção de Clint Eastwood (que não aparece como ator, apenas dirige, mas curiosamente também compôs a trilha musical, aliás com ajuda do filho Kyle, confirmando sua tendência dos últimos anos de gostar mais de jazz do que cinema, ele recentemente fez também um dos episódios da serie de TV "The Blues").

Apesar do esforço que Cannes sempre fez em prestigiar o ator diretor, mesmo antes do Oscar descobri-lo e premiá-lo com "Os Imperdoáveis", não considero Clint um "autor". Tem sua importância como astro, como figura, personagem. Mas não tem estilo como realizador, ao contrário, a qualidade que todo mundo elogia é sua rapidez (roda no máximo duas vezes cada cena e não gosta nem de ensaiar, nem de repetir, sendo parte da honra concluir o filme cedo e abaixo do orçamento). O que no fundo para mim parece um desmazelo, falta de cuidado. É defeito e não qualidade.

A história aqui parece um pouco outro filme policial, "Sleepers", de Barry Levinson, que tinha também o Kevin Bacon. Mas Clint é um diretor preguiçoso, banal, que não sabe criar suspense ou tensão, se limita a contar a história de forma tradicional (na dúvida e nas passagens de cena, corta para planos gerais do rio, como se fosse novela da Globo). E não sabe dirigir os atores, que resultam muito irregulares. Bacon e Larry Fishburne por exemplo, tem a ingrata missão de passarem a fita toda discutindo detalhes da investigação policial, num blá blá blá interminável.

Não existem personagens humanos ou autênticos. Aliás, os três heróis nada tem em comum, nenhuma afinidade ou empatia entre si. A história começa com o abuso de um dos garotos, só que o assunto não é mostrado direito, o menino foge mas a situação é meio passada por cima, sabe-se que ele ficou traumatizado mas não dizem como. O abuso sexual nessa idade é realmente sério e geralmente deixa marcas para sempre, comporta denúncia e discussão mas o filme foge delas como o diabo da cruz.

Por outro lado, o elenco praticamente telegrafa tudo que faz, só fazem as coisas de maneira óbvia, em particular a vencedora do Oscar Marcia Gay Harden - que cai em todos os clichês como a esposa do rapaz que se torna adulto e o personagem é assumido por Tim Robbins, outro ator de recursos limitados e que não segura um papel complexo. Então Robbins é o traumatizado que se casou e tem filho. O outro é Bacon que virou policial. E um terceiro é Sean Penn, que virou dono de mercadinho mas cumpriu pena de prisão e parece ter ligações com o submundo.

Acontece que a filha dele aparece morta e o aparente suspeito para o espectador é Robbins, que chegou ensangüentado em casa. O espectador experimentado sabe que não, porque alguma reviravolta precisa acontecer. Mas a resolução é inconvincente, com os culpados tirados do bolso do colete (não se dá nem uma razão convincente para o crime, a que podia ser não é levada adiante). Enquanto isso, há a investigação particular comandada por Penn, com conseqüências desastrosas (mas que na trama resultam amoralmente sem punição).

Muito longo (2h17), arrastado, sem clima, sem suspense, com elenco irregular (a melhor é Laura Linney que tem o papel pequeno da esposa de Penn), o filme é dos trabalhos mais discutíveis de Eastwood. Obviamente não me impressionou. Mas a fita tem defensores tão ardorosos que prefiro deixar a dúvida para vocês resolverem.

Os críticos americanos adoraram o filme, que acabou ganhando uma série de prêmios, entre eles os Oscars de Melhor Ator (Penn) e Coadjuvante (Robbins), além das indicações para Atriz Coadj. (Marcia Gay Harden), Direção, Filme e Roteiro Adaptado.

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