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Ficha completa do filme

Guerra

Soldado Anônimo (2005)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
Soldado Anônimo

Foi um erro do diretor Sam Mendes (em seu terceiro filme, os anteriores foram os premiados e bem sucedidos "Beleza Americana" e "Estrada para Perdição") ir contra a maré, não ter tido a sensibilidade de que a onda do momento era criticar o governo Bush. Não sacou que no ano de 2005 haveria uma série de fitas questionando sua administração e opções, particularmente nas suas guerras. E que elas seriam bem sucedidas.

Pior que isso, não ter sensibilidade para captar que o "Ar do tempo" ("Zeitgeist") é aceitarem fazer este tipo de filme sem questionar, em maior profundidade, a própria razão de ser da profissão de soldado profissional. Chegando mesmo a dar a impressão de que é um filme feito para louvar o sistema americano e principalmente o fuzileiro naval (o que em última análise e para um público já com má vontade com os Estados Unidos isso acaba sucedendo).

É baseado num livro autobiográfico de 2003 do ex-fuzileiro Antony Swofford, sobre suas experiências na chamada "Desert Storm", a Guerra do Golfo, onde Bush pai invadiu o Iraque para defender o Kuwait, que havia sido atacado por Saddam Hussein (mas tolamente depois de ter vencido tudo em alguns dias, deixou Hussein no poder, um erro que o filho agora tentou corrigir com conseqüências trágicas).

O título original se refere ao estilo de corte de cabelo típico dos militares (aliás, obrigatório). Um assunto pouco discutido no cinema (onde o único filme que tocava no assunto de passagem foi "Três Reis", 1999, de David O. Russell, com George Clooney, que por trás de uma história de assalto, pintava um retrato violento e bem humorado do caos da situação).

Só que é muito mais do que consegue este filme, profissional mas bem comportado demais, que acompanha a trajetória de um certo Swoff (Gyllenhaal fez esta fita pouco antes de "O Segredo de Brokeback Mountain"). Embora um sujeito bonitão, grande, ele tem uma cara de gaiato, meio abobado, não exatamente um herói. Mais um tipo desajustado como os filmes que fez antes, como o cult "Donnie Darko".

Descendente de família de militares, ele mergulha no treinamento (e não se sabe se de propósito, o começo lembra muito o filme de Stanley Kubrick, "Nascido Para Matar"/ "Full Metal Jacket", que mostrava o período de treinamento de forma ainda mais obsessiva e perturbadora). De qualquer forma, ele se revela um bom atirador e serve como sniper (para atentados a distância).

Até quando é mandado para o deserto do Oriente Médio, onde fica esperando no sol, calor e tédio, a ordem para participar da invasão. E descobre que, no final das contas, qualquer guerra é um inferno (o que não é exatamente novo) e que o maior inimigo deles é o tédio. Sem falar na futilidade de toda a empreitada.

Quando chega a hora de falar ou criticar o governo, o filme sai-se com uma tirada ("Não vamos falar de política"). Que acaba comprometendo-o. Como a história não tem quase ação ou mesmo heroísmo, o filme que não chega a desagradar, mas também não tem apelo para o público de fita de ação. Não tem heroísmo, poucas piadas e a maior parte das situações que aparecem são inspiradas em lendas urbanas que se ouviam durante a Guerra. Não fatos reais.

Outro erro de Jamie Foxx, depois do Oscar por "Ray", foi aceitar o papel pouco marcante do sargento (ele certamente topou o papel antes do prêmio, aliás, o estava rodando durante a premiação). A única outra figura de destaque é de Peter Sasgaard (na vida real casado com a irmã de Jake, a talentosa Maggie Gylenhaal, de "Secretária") que faz Troy, o colega que vai enlouquecendo.

Há uma seqüência onde os recrutas assistem uma cena do clássico "Apocalipse Now", de Coppola, sobre a Guerra do Vietnã. Embora de cabeça fria, não seja um filme ruim, foi uma decepção e não teve qualquer indicação ao Oscar. Apenas não é oportuno.

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