Teorema (1968)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

O mais obscuro e famoso de todos os filmes do poeta, roteirista e diretor Pasolini (1922-75), comunista, gay, católico, polemista. Provocador (o filme chegou a ser proibido em seu país natal), Pasolini acabou sendo assassinado por garotos de programa numa praia perto de Roma.

Anos depois, a fita ainda continua misteriosa (apesar de ter sido muito imitada). Basicamente utiliza o charme ambíguo do inglês Stamp (de "Priscilla, a Rainha do Deserto"), como o jovem (que pode ser um anjo, já que a fita é toda cheia de imagens e textos filosóficos com jeitão de bíblico). Ele transa com todas as pessoas da casa, começando pelo filho ruivo, e as modifica de alguma maneira (uma começa a levitar como santa, outra fica catatônica e o herói burguês larga tudo, se despoja das roupas e sai correndo pelado por uma paisagem desértica).

É muito interessante o elenco que utiliza lindamente a frieza de La Mangano (como a esposa), a força de Girotti (astro de "Obsessão", de Visconti, falecido em janeiro de 2003), a inexpressão de Anne (que faz a filha, na época era mulher de Godard) e a garra de Laura Betti (a empregada, depois ela se tornaria a grande musa e amiga do diretor, divulgando seu nome até hoje). Também o amigo Ninetto Davoli (protegido de Pasolini que fez todos seus filmes e aqui é um carteiro).

A fita alterna preto e branco e colorido. Tem também uma mensagem política da época (começa com entrevista sobre a burguesia), mas de qualquer forma explica pouco e deixa tudo aberto à discussão. Basicamente, porém, é sobre a possibilidade de mudança na vida da pequena burguesia, quando se despe ou reconhece seus falsos valores. Uma fábula que se assiste fascinado, mas ainda não muito clara (talvez até porque a censura da época era muito rígida).