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Ficha completa do filme

Drama

Terra em Transe (1967)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5

"Terra em Transe", o seminal filme de Glauber Rocha (1938-1981), foi, com o espetáculo "O Rei da Vela", de José Celso Martinez Correa, uma das origens do Tropicalismo. Agora o filme sai em disco duplo em DVD e em cópia restaurada em ótima qualidade.

Com epígrafe de Mario Faustino ("tanta violência, mas tanta ternura"), o longa conta com a participaçãomarcante, mas totalmente sem falas da então modelo Danuza Leão.

Quando foi lançado em vídeo, o filme teve um de seus rolos trocados e ninguém percebeu, já que se tratava de uma narrativa confusa. Longe de ser um filme fácil, "Terra em Transe" prenunciava o cineasta caótico que cada vez mais Glauber Rocha se tornaria, além de discursivo, exagerado, polêmico, mas sempre brilhante.

Para o estrangeiro, o filme é de difícil compreensão, mas o brasileiro identifica melhor os arquétipos de nossa antiga política (personagens parecidos com Jânio Quadros, a velha turma do "café-com-leite", Paulo Autran como Carlos Lacerda etc.).

Mas é sempre preciso ver que se trata de uma alegoria. A câmera vem do mar (Autran entra em cena como o político Diaz carregando uma bandeira e um crucifixo), que relembra as origens portuguesas (Clóvis Bornay aparece fantasiado na praia, e Diaz é coroado pelo Rei Momo) e tudo se degenera em samba, carnaval e cerveja (na época ainda não era pizza).

O filme é uma sátira implacável da nossa política e se mantém atual nesse sentido. Com a mágica câmera na mão de Dib Lutfi, o filme é um extraordinário exercício de estilo e um retrato psicológico do que é ser brasileiro, do que é fazer política no Brasil, onde, como diz José Lewgoy numa cena, "tudo no fim dá certo".

Numa revisão, impressionam várias coisas em "Terra em Transe": 1) como o filme foi premonitório, prevendo as guerrilhas que iriam suceder ao AI-5 da ditadura e exemplificadas pela atitude de Jardel Filho; 2) todo o filme é um delírio de um poeta que se rebela contra a situação e vai morrer por isso. Então tudo é permitido e justifica as ousadias narrativas, hoje já um pouco absorvidas e mal copiadas. Resiste especialmente bem o lado poético do diretor; 3) toda a marcação é teatral, encenada com a câmera perseguindo os atores, e não o contrário; 4) o filme usa excepcionalmente poucas locações e tipicamnmete cariocas, como o Teatro Municipal, a galeria Menescal e o parque Lajes, mas sem revelar que é o Rio. Sem dúvida, "Terra em Transe" ainda é uma obra-prima.

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