Tiresia (2003)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 1

No Brasil, já vimos "O Pornógrafo", o filme anterior de Bertrand Bonnelo. Pois este novo é ainda pior, também porque fala de personagens brasileiros. Exibido como concorrente em Cannes, a curiosidade é que os dois atores centrais eram brasileiros, Clara Choveaux (que nasceu em Curitiba, filha de pai francês) e um certo Thiago Telles (que é melhor falando francês que português, onde titubeia).

Pena que o filme seja tão fraco, pretensioso e errado. Não chega a ser ofensivo, apesar de mostrar os travestis brasileiros do Bois du Boulogne. É sobre um sujeito misterioso (Laurent Lucas, que é prognata e parece o Barbosa, personagem que Latorraca fazia na tevê) que depois descobrimos ser um padre.

Ele, como em "O Colecionador", captura um travesti brasileiro (que vive nas ruas com o irmão como cafetão) e o prende num lugar, atraído por sua dupla sensualidade. Mas vai se desinteressando quando os hormônios deixam de fazer efeito e ele vai ficando com barba e tipo mais masculino.

O truque do diretor é começar com uma mulher fazendo o papel (no caso Clara) e depois aos poucos ir mudando para Thiago, embora eles no fundo não se pareçam tanto e seja impossível, creiam-me, fazer aquela mulher delicada e com seios sem silicone parecer um traveco (o comportamento dos colegas em algumas cenas torna o personagem ainda mais inverossímil).

Mas a fita é pretensiosa e esse herói chama-se Tiresia, que é tirada da mitológica; personagem que virou pitonisa depois de se tornar cega. É o que acontece aqui com o herói, que tem seus olhos furados pelo padre, e é ajudado por uma bela jovem (que é literalmente uma criada muda) e acaba se tornando um vidente que prevê o futuro das pessoas (mas pelo jeito não o seu). A fita é cheia de frases em português e também o tema musical é Teresinha de Jesus de uma queda foi ao chão.