Titanic (1943) (1943)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 2

Foi o próprio Goebbels que, em plena Segunda Guerra, encomendou essa caríssima versão da conhecida história do Titanic. É um descarado filme de propaganda anti-britânica, que coloca toda a culpa da tragédia na ganância por lucros dos investidores ingleses, mostrados como cínicos e pusilânimes (e o líder deles, naturalmente, tem traços judaicos).

Também a tripulação do navio é toda incompetente e irresponsável, com uma única exceção, um heróico oficial de origem alemã. Nem os passageiros escapam da absoluta falta de sutileza do ataque ao povo inglês: são ricaços decadentes e repulsivos ou, na terceira classe, uma malta que não hesita em pisar em mulheres e crianças para alcançar os botes salva-vidas (e que inclui uma lasciva dançarina, obviamente judia, que se deixa beijar e apalpar simultaneamente por dois diferentes amantes).

E para que nem o mais distraído espectador perdesse a mensagem, o filme ainda se encerra com um letreiro reiterando a corrupção do povo inglês.

Cinematograficamente medíocre, sem ritmo, mal interpretado e com efeitos especiais primários, foi o último filme do diretor Herbert Selpin (1902-42). Desprovido de talento, ele só viu sua carreira decolar ao servir ao nazismo em filmes de propaganda como esse.

Mas cometeu o erro de entrar em atrito com os oficiais nazistas que colaboravam na produção (que, ironicamente, estavam mais preocupados em realizar orgias com as atrizes do que em minar a imagem da Inglaterra) e ir reclamar diretamente com Goebbels. Pouco depois seria preso pela Gestapo, oficialmente cometeria suicídio na prisão e o filme seria terminado por outro diretor.

Goebbels acabaria desgostoso com o filme, que mal foi exibido na Alemanha e fez uma curta carreira nos países ocupados pelos nazistas, caindo logo no esquecimento. Hoje é apenas uma curiosidade, recomendada tanto para os interessados no cinema alemão, quanto na história da Segunda Guerra. A boa cópia aumenta o valor histórico.