Edição lançada em bancas no Brasil, a ópera-rock (diálogos cantados pelos atores) "Tommy", formada por um elenco de astros, é baseada no disco homônimo de 1969 da banda inglesa The Who.
A parábola concebida pelo guitarrista e compositor Pete Townshend pode soar tanto ambiciosa quanto ingênua e pretensiosa ao questionar o poder dos gurus, dos que se dizem possuidores da verdade e intermediários de Deus.
Tommy pode ser visto apenas como uma fraude forjada para render dinheiro, mas também como alguém que acredita naquilo que prega e tem seu caminho equivocado facilitado pelos fiéis (uma das letras diz: "o Messias aponta para a porta, mas ninguém tem coragem de sair do templo"), tornando-se vítima também do sistema que clama por esse tipo de líder. O que é uma reflexão interessante para os tempos atuais, de fanatismos religiosos vários.
Toda a exuberância de personagens e eventos já existia no disco original, mas ficou ainda mais realçado no filme pela direção do sempre excessivo Ken Russell (George Lucas, em início de carreira, chegou a ser convidado por Townshend para dirigir esse filme).
Como é habitual nos filmes de Russell, o visual é sempre barroco e carregado e o elenco, descontrolado e estimulado ao "overacting". O filme ainda é prejudicado pelos maneirismos de narrativa dos anos 70, mas no conjunto tem muitas idéias interessantes e imagens marcantes.
Naturalmente não é um filme para todos os públicos (quem detesta rock vai achar insuportável, e o fato de atores como Oliver Reed e Jack Nicholson cantarem com suas próprias vozes também não ajuda muito!), mas tem uma merecida fama de cult e muitos admiradores.
O protagonista, o vocalista do The Who, Roger Daltrey, chegou a ser indicado ao Globo de Ouro como ator estreante e tentou uma carreira cinematográfica que acabou sendo modesta e sem grandes resultados.
A seqüência em que o pastor interpretado por Eric Clapton toca guitarra e canta em uma igreja, cercado de imagens de "santos" como Marylin Monroe, foi cortada nos cinemas brasileiros na época, devido ao "desrespeito para com a Igreja".
Para os não-roqueiros a figura mais marcante é Ann-Margret, que, pelo filme, foi indicada ao Oscar de atriz. "Tommy" foi ainda indicado a Oscar de trilha musical adaptada. Chegou a ser adaptado para a Broadway nos anos 90, mas com outra história, tirando a parte de abuso sexual e foi sucesso apenas relativo.
Edição de banca em cópia excelente, tirada da edição americana "Superbit", de 2002, com áudio em DTS, muito superior ao do original da Columbia de 1999.