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Ficha completa do filme

Drama

Tróia (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4
Tróia

Apesar de "Tróia" ser um filme comercial, blockbuster de Hollywood, é um épico decente, bem feito, que sempre interessa. Não exagera nos efeitos digitais (na verdade, poucos. Para aumentar as multidões nas batalhas, para vistas gerais de navios ou ancoradouros). Nesse ponto, é muito melhor do que "Gladiador", onde todas as lutas eram artificialmente aceleradas e mal se podia perceber os atores lutando. Aqui, o clímax da luta entre Heitor (Eric Bana) e Aquiles (Brad Pitt) é feita de forma realista, convincente e parece que a história de que os dois se machucaram bastante na rodagem não é conversa fiada. Da para ver que é verdade.

O bom resultado do filme deve-se certamente ao diretor alemão, Wolfgang Petersen ("História sem Fim", "Inimigo Meu"), que acabou se tornando um grande técnico, um sujeito que sabe contar uma história com garra e competência. O roteiro desta vez afirma ser apenas inspirada na "Ilíada" de Homero, e toma certas liberdades com a lenda. Não há interferência ou participação dos deuses (segundo eles, porque não quiseram embarcar na fantasia que na tela poderia resultar ridícula). Na verdade, o filme todo procura ser realístico (e por isso teria sido rodado no México e Malta, que parece mais a atual Turquia, onde segundo a produção teria existido Tróia). É uma opção discutível.

A fantasia faz falta, mas não compromete. Por exemplo, não se menciona o famoso "Calcanhar de Aquiles" (ele teria tomado um banho protetor dos deuses, mas foi seguro pelo calcanhar, que se tornou seu ponto fraco). Ainda que, para não mudar muito a história, ele primeiro seja ferido no calcanhar, mas não de forma mortal, dando tempo apenas para ser novamente ferido por flechas. E quem solta as flechas é Paris, que no filme é feito por Orlando Bloom (que tinha uma função parecida em "O Senhor dos Anéis").

O roteiro simplesmente tentou concentrar em duas horas e quarenta e cinco minutos o máximo de incidentes e lutas possíveis, sem mergulhar em grandes aprofundamentos psicológicos (perde nisso, personagens como Paris e Helena, que acabam virando coadjuvantes na trama). Naturalmente, quando escreveram a história, resolveram colocar Aquiles como o herói, até para ter um astro no filme.

Por outro lado, não tiveram coragem de contar a história homossexual famosa entre Aquiles e Pátroclos (que no filme virou seu primo e afilhado, cuja morte provoca a vingança de Aquiles). O roteirista se defendeu dizendo que não há nenhum trecho no poema original que indique que eles tivessem um caso, ainda que, completou Pitt diplomaticamente, fosse normal isso na época na Grécia antiga, preferiram acentuar o lado família por questões de espaço. Mentira. Obviamente foi para o filme ter censura mais leve e não mexer em valores familiares polêmicos. Outra inovação é a morte de Agamenon em circunstâncias diferentes (novamente a explicação foi falta de tempo). Ou seja, é uma nova leitura da lenda de Tróia, de seu famoso Cavalo que foi um presente de grego (todas expressões que entraram para o nosso cotidiano).

O épico funciona em quase tudo: trilha musical, fotografia, direção de arte (relativamente discreta e sem cair em cafonismos) e resulta melhor do que o "Helena de Tróia" de Robert Wise, que saiu em DVD. Com uma grave exceção: quem disse que Brad Pitt tem capacidade para fazer papéis não naturalísticos?

Ainda que fique bem de saiote (as pernas ficaram mais musculosas, sua pele continua com problemas, já que reza a lenda ele não pode filmar a tarde porque estouram as espinhas e perebas), quando precisa dizer frases mais empoladas (aliás, o filme não foge delas, tem aquela que afirma "que ninguém irá esquecer desta guerra") fala como se já conhecesse o futuro e soubesse o destino dos personagens. O que é um absurdo. Mas não é só onde Brad falha. A cena em que ele fica sabendo da morte do jovem amigo-primo-amante, faz umas caretas horríveis, dignas do pior Marlon Brando. E sem esquecer da melhor sequência do filme, que é naturalmente aquela em que Peter O'Toole, como o rei de Tróia, vem implorar para enterrar o seu filho. É isso que acontece quando se tem bons atores.

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