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Ficha completa do filme

Drama

Tudo sobre minha Mãe (1999)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
Tudo sobre minha Mãe

Vencedor do prêmio de Direção no "Festival de Cannes", acabou sendo o filme mais premiado do ano, inclusive com o Oscar de "Filme em Língua Estrangeira", consagrando Almodóvar como o maior cineasta da Espanha e também ajudando Penelope Cruz a deslanchar numa carreira internacional. O filme conclui com uma dedicatória que vem antes dos letreiros e créditos, dizendo "Para Bette Davis, Gena Rowlands, Romy Schneider... a todas as atrizes que interpretaram atrizes, a todas as mulheres que atuam, aos homens que atuam e se convertem em mulheres, e a todas as pessoas que querem ser mães. À Minha mãe".

Desde o filme anterior, o excelente "Carne Trêmula", 1997, Almodóvar já demonstrava que além de ser um grande criador, um cineasta inteligente, brilhante, autoral, bem-humorado, capaz de inventar um universo ao mesmo tempo muito particular (cores berrantes, figuras exóticas, temática sexual), também era muito espanhol (com figuras de melodrama, sem medo de passar da comédia à tragédia praticamente na mesma cena). Sua carreira é repleta de fitas sempre interessantes (antes dessas, sua fita mais bem sucedida era ainda mais gay, "A Lei do Desejo", 1986) e temas recorrentes.

Mas foi aqui que ele conseguiu o equilíbrio perfeito entre os diversos ingredientes, reunindo um elenco de velhos parceiros (incluindo a Fotografia que é feita pelo brasileiro Affonso Beato, aliás de grande qualidade, dentro do estilo que o diretor gosta), além da ligação que mantém com o Brasil (o roteiro começou a ser escrito na casa de Caetano Veloso, na Bahia).

Aqui, Pedro fugiu um pouco da farsa que dominou muitos de seus filmes, procurando mais o melodrama, numa história sensível, muito feminina mas, ao mesmo tempo, diferente (veja a dedicatória final da fita, que explica tudo, inclusive o choque que foi a morte da mãe dele, que sempre fazia uma pontinha em suas fitas). Ele inspira-se em duas obras-primas do cinema - "A Malvada" ("All About Eve", 1950) de Joseph Mankiewicz e "Uma Rua Chamada Pecado" ou "Um Bonde chamado Desejo", a peça de Tennesee Williams que foi filmada por Elia Kazan em 1951.

O filme começa com uma mãe (a argentina Cecilia) e seu adorável filho loiro e adolescente assistindo pela televisão, dublado, o clássico "A Malvada" (mais tarde, como o personagem, ela própria assumiria um papel numa peça), reclamando da mudança de títulos e revelando a precocidade do menino que escreve muito e, que, como presente de aniversário, irá assistir com a mãe, uma montagem da peça "Um Bonde Chamado Desejo", com uma atriz famosa (que depois ficamos sabendo que é lésbica e tem problemas com a amante e companheira de cena, viciada em drogas). Chove, enquanto eles esperam por um fotógrafo na saída e o rapaz corre atrás do táxi em busca da atriz. Mas vem a fatalidade. Ele é atropelado e morto. Mesmo assim, a mãe consegue doar os órgãos (uma campanha em que estava engajada) sem conseguir ocultar sua dor.

Tentando reconstituir sua vida, retorna à sua cidade natal, Barcelona, onde reencontra uma amiga travesti (na verdade, feita por uma mulher, uma comediante que o diretor descobriu para a fita, a esquisita Antonia San Juan) que se prostitui. Passam a morar juntas enquanto ela se aproxima também da atriz (a grande Marisa Paredes, habitual estrela das fitas do diretor), de quem vira amiga e confidente.

Eventualmente irá substituir a moça drogada num personagem da peça. Mas seu objetivo é encontrar o pai do menino, que, no final das contas, desde então não apenas virou travesti como está no último estágio da Aids. Para complicar ainda mais, engravidou uma jovem freira (Penelope Cruz), que tem uma mãe severa e um pai velho e senil.

Fiz questão de ampliar o resumo para melhor entender a complexidade deste universo tão ambíguo e inusitado, orquestrado com maestria e nenhum moralismo (como Pedro conseguiu fazer o espectador comum aceitar tipos e situações tão bizarras, é nada menos que milagroso), numa narrativa lírica, sem tropeços, de tal forma que quando realmente se conclui com a dedicatória, só resta chorar ou aplaudir. Ou ambos. Faz parte do "Box Pedro Almodóvar". Edição americana traz uma entrevista exclusiva com o diretor ("An Intimate Conversation with Pedro Almodóvar") e Trilha Musical isolada.

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