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Ficha completa do filme

Drama

Vinhas da Ira (1940)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
Vinhas da Ira

O grande diretor John Ford (1894-1973), que se apresentava dizendo "eu faço westerns", curiosamente nunca foi premiado com um Oscar por um filme desse gênero, e sim _quatro vezes_ por seus dramas. "Vinhas da Ira" foi seu segundo drama.

Foi um ato de coragem fazer um filme baseado no livro de John Steinbeck, modificando-o em muitos detalhes (em especial o final, mais otimista no filme), mas sem trair seu espírito e sua mensagem. O sucesso se deve primeiro ao prestígio e genialidade de Ford e também à excelência do fotógrafo Gregg Toland (1904-48), que, com seu trabalho nos filmes de William Wyler e em especial em "Cidadão Kane", de Orson Welles, poderia ser considerado o melhor do mundo na época.

Tratar do problema dos bóias-frias, naquele momento em que o mundo entrava em guerra, os Estados Unidos se esforçavam para continuarem neutros e a depressão ainda era muito próxima, foi um trabalho de excepcional audácia.

Embora realmente fuja do obviamente político e panfletário, o filme não esconde a presença de agitadores comunistas (sem usar o nome), do uso da lei e das autoridades para oprimir os trabalhadores, e toda sua mensagem final é sem dúvida populista e de esquerda.

Além da habitual sobriedade e precisão da direção de Ford, a discrição da atuação de Henry Fonda ajuda muito a segurar a narrativa enquanto a família vai se esfacelando diante da realidade da miséria, da falta de trabalho, dos abusos de autoridade e injustiças.

A beleza da fotografia em preto-e-branco, de uma certa maneira, suaviza a dureza dos diálogos e situações, dando-lhes poesia e humanidade. As frases finais da mãe são um resumo da mensagem do filme: "A gente rica vem e morre. E seus filhos não prestam. Também acabam morrendo. Mas nós continuamos. Nós somos o povo que vive. Eles não podem nos vencer. Continuaremos para sempre, porque nós somos o povo".

Além do Oscar de direção, "Vinhas da Ira" ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante para Jane Darwell (1880-1967), que interpreta a mãe e tem o discurso final. Jane teria uma longa carreira que só se encerraria como a mulher dos pássaros em "Mary Poppins".

Ford não gostava de ensaiar nem de repetir cenas e a antológica seqüência entre Fonda e sua mãe foi rodada apenas uma única vez. Apesar do estúdio ser famoso por filmes engajados, esse só conseguiu ser realizado pela Fox _bancos e financistas achavam que o tema era comunista_, graças ao prestígio pessoal de Ford e à insistência do chefe do estúdio, Darryl F. Zanuck (que forneceu o título de rodagem "Highway 66" só para despistar e não chamar a atenção devido ao livro ser polêmico).

Os scripts eram recolhidos a cada noite, e o set, protegido por guardas para evitar sabotagem. Zanuck preferia Don Ameche ou Tyrone Power para o papel central, mas Fonda foi imposto por Ford (que era seu amigo) e teve seu melhor momento no cinema com esse filme.

A comovente fala da mãe ao final do filme foi escrito pelo próprio Zanuck. Para evitar problemas, todos fizeram questão de dizer que o filme era apolítico, e não um documento social, mas claro que hoje ele sobrevive como um autêntico documentário sobre o período e sobre a história americana, uma obra-prima que melhorou com a idade.

Lamentável a edição em DVD, muito pobre, sem nenhum extra (um making-of seria indispensável) e com cópia não restaurada, manchada e mostrando os sinais do tempo.

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