Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (2010)

Sérgio Alpendre

Colaboração para o UOL 02/09/2011

Nota: 3

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A trajetória de Woody Allen neste século tem sido curiosa. Depois de algumas comédias inspiradas ("Trapaceiros", "O Escorpião de Jade" e "Dirigindo no Escuro"), realizou dois filmes que, apesar de confirmarem sua habilidade de encenador e direção de atores, não podemos chamar de bem sucedidos.

Até que foi para Londres, realizando lá três filmes, "Match Point - O Ponto Final", "Scoop - O Grande Furo" e "O Sonho de Cassandra", dos quais o mais fraco, "Scoop", é uma comédia agridoce de raro encanto.

"Match Point" seria o ponto a partir do qual Allen não erraria mais, atingindo pontos altíssimos ("Vicky Cristina Barcelona" e "Tudo Pode Dar Certo") e pontos menos inspirados, mas plenamente dignos de sua carreira gloriosa, casos de "Scoop" e deste "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos", disponível agora em DVD, que marca um retorno a Londres após o novaiorquino "Tudo Pode Dar Certo".

No centro deste filme londrino que poderia ser chamado de "tudo pode dar errado", temos o casal formado por Sally (Naomi Watts) e Roy (Josh Brolin), interpretado por dois bons atores que dependem de um bom diretor.

Roy arrasta suas asas para a graciosa vizinha chamada Dia (Freida Pinto). Sally se interessa pelo patrão (Antonio Bandeiras), dono de uma galeria de arte, e tem que se virar com o pai maluco metido a jovem (Anthony Hopkins) e a mãe abandonada e agora complexada.

O personagem de Hopkins se apaixona por uma prostituta, e com ela pretende se casar. Allen é sarcástico no momento em que ele apresenta a moça para a filha e o genro, pois faz com que a pretendente se pareça com um travesti (quando nos outros momentos do filme isso não acontece). E ao contrário de "Tudo Pode Dar Certo", o homem mais velho não transmite sabedoria, e a moça mais nova não o torna mais jovem. Ou seja, mostram-se incompatíveis depois de um tempo, mas insistem.

O casal (Brolin e Watts) tenta manter esse casamento cheio de complicações com as quais eles não conseguem lidar. Ele é um escritor fracassado, e a forma que encontra para sair do limbo artístico vai se virar contra ele na cena mais trágica e espetacular, em um quarto de hospital.

O que percebemos neste filme melancólico é um diretor menos feliz com o ritmo, e talvez por isso também seja o filme menos bem encenado que dirigiu nos últimos anos. O respeito que Allen dedica ao gestual e às movimentações do ator pedem por uma encenação baseada em poucos cortes e muita mobilidade da câmera. "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos" é, em vários momentos, quase o contrário disso. Pelo menos não é bem o que Allen costuma fazer, e essa mudança reflete no ritmo (ou o problema do ritmo reflete nisso, não temos como saber ao certo).

São problemas que limitam o filme, mas que ainda permitem alguns momentos de graça, sobretudo com Hopkins e com as trapalhadas de Brolin. É claramente um Allen menor, mas como o diretor está numa fase esplendorosa, mesmo um filme menor, com sua assinatura, resulta em algo bem acima da média.