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Ficha completa do filme

Drama

Vozes Inocentes (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
Vozes Inocentes

Uma pena que este filme, que foi indicado oficialmente pelo México como seu representante no Oscar de Filme em Língua Estrangeira de 2004, não tenha sido descoberto. Este foi o primeiro trabalho do mexicano Mandoki em sua terra natal desde 1984, depois que se deu bem em Hollywood, em fitas como "Gaby", uma História Verdadeira", "Loucos de Paixão" e "Quando um Homem Ama uma Mulher".

Ultimamente, como andou errando (em trabalhos menores como "Encurralada", com Charlize Theron e "Olhar de Anjo"), retornou às suas origens. Foi quando descobriu um roteiro autobiográfico de Oscar Orlando Torres, que relembra como foi sua infância no interior de El Salvador, nos anos 80, durante a Guerra Civil que durou 12 anos e fez milhares de vítimas.

O herói é um garotinho chamado Chava (o bom Carlos Padilla, aliás todas as crianças são ótimas e convincentes) que tem 11 anos e apesar de ser totalmente infantil, tem problemas porque quando chegar aos 12, será convocado para lutar pelo exército ou então pelos próprios guerrilheiros. Ou seja, não tem saída.

Como seu pai fugiu para os Estados Unidos, ele vive com a mãe e dois irmãos num casebre que está em meio à linha de fogo. Constantemente eles são acordados por tiroteios e balas perdidas. O que também sucede nas ruas e na própria escola onde estudam.

O filme faz questão de marcar todas as etapas da vida de uma criança naquela fase (o primeiro amor com uma colega de escola, filha da professora, as brincadeiras com os colegas, o prazer de comer manga no pé e soltar balões). Sem enfatizar demais a violência ou a guerra civil (apesar de mostrar as mortes inúteis, a perseguição ao padre local) denunciar a intervenção americana (que apoiou e instruiu as tropas governamentais).

Não chega a tomar posição no conflito, embora obviamente a simpatia seja com os rebeldes. É mais a tragédia de crianças que são obrigadas a se tornarem bucha de canhão e participarem de uma luta armada de que nada entendem ou se interessam.

O filme tem algumas cenas de execução muito fortes e que em tempos mais lúcidos provocariam o sucesso dele. Nos tempos da Ditadura, certamente seria proibido. Hoje ele luta contra a maré da Era Bush e a indiferença sobre assuntos desse tipo.

Apesar de ser considerado fora de moda, denunciar corrupção, intervenções e massacres ainda mais na América Latina, o filme é bem feito, muito bem interpretado e dirigido (curiosamente o ponto mais fraco é a atriz mais conhecida, que faz a mãe do menino, Leonor Varela, a Cleópatra da tevê). Vale ser descoberto.

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