Notável e pouco lembrado filme do começo da carreira do mestre Louis Malle (1932-95), também porque nunca foi exibido comercialmente aqui. Nunca oficialmente ligado à Nouvelle Vague e com estilo próprio, Malle podia ousar em filmes como esse, uma deliciosa brincadeira com o modo de vida francês da época.
Livremente adaptado do livro de Raymond Queneau, conta as aventuras de Zazie (Catherine Demongeot), uma menina desbocada e independente de doze anos que vai passar dias com parentes parisienses, enquanto a mãe se diverte com o namorado.
Ela quer passear de metrô, mas os metroviários estão em greve e o seu excêntrico tio (Noiret) e um amigo taxista (Roblot) acabam apresentando-lhe Paris de uma maneira mais divertida e inusitada. Malle encenou tudo com absoluta liberdade, por vezes até anárquica, usando colorido berrante, surrealismo, piadas hoje politicamente incorretas, muito humor pastelão no estilo do cinema mudo de Mack Sennett e os Keystone Kops.
A pronunciada opção pela linguagem frenética dos desenhos animados por vezes faz o filme parecer um desenho do Papa-Léguas ou Pernalonga. Claro que a mistura nem sempre funciona com perfeição, mas os melhores momentos são brilhantes. Porém, não tem um ponto de vista ou propósito, não é cálido e acaba cansando de tanta loucura.
O filme teria influenciado Richard Lester e seus filmes com os Beatles e teve como consultor de visual, o artista e diretor William Klein. Este foi o terceiro filme de Malle e não tem alguma semelhança com nada que fez antes ou depois.