Presidente do Marvel Studios explica o que fez para chegar lá e manter os Vingadores unidos
Regra básica para histórias de encontros de super-heróis nos gibis: antes de enfrentar uma ameaça comum, eles saem no braço. Não seria diferente em "Os Vingadores", que marca o fim da primeira fase da Marvel no cinema reunindo seus maiores heróis contra um inimigo que, sozinhos, eles não conseguiriam enfrentar. Em teoria, a ideia de juntar tantos heróis em um só filme é sensacional; na prática, é um esforço fenomenal para encontrar uma dinâmica que funcione bem no cinema, dando espaço para cada personagem e criando uma narrativa em que cada peça é tão importante quanto o todo.
TRAILER DUBLADO DE "OS VINGADORES"
O mesmo pode ser dito do lado de cá das câmeras. Diversas produções no cinema e na TV com grandes elencos e grandes egos criavam um clima belicoso no set. Batman e Robin – ou Adam West e Burt Ward – nem trocavam olhares na série dos anos 60. O elenco de "Glee" fechou o tempo contra a “diva” Lea Michelle. Por outro lado, George Clooney e cia. se divertem tanto quanto a plateia em "Onze Homens e um Segredo" e suas continuações. Os atores de "O Sucesso a Qualquer Preço" apareciam no set do filme de James Foley mesmo quando não tinham de trabalhar só para ver os colegas em ação.
"Os Vingadores", felizmente, caiu nesta segunda categoria. Apesar dos grandes nomes envolvidos, as filmagens seguiram de maneira harmoniosa, com Robert Downey Jr., Chris Evans e Jeremy Renner, ao lado dos outros companheiros, passando tempo juntos nas folgas. “A filmagem foi espetacular porque todo mundo estava lá para apoiar o companheiro”, revela Kevin Feige, produtor do filme e presidente do Marvel Studios. “A ideia sempre foi que essa camaradagem fosse refletida em cena.”
Eu sabia que os personagens principais de 'Os Vingadores' estavam em nossas mãos. Mas juntar todos em um filme só parecia impossível.
Responsável por encontrar esse equilíbrio de ambos os lados da câmera, o diretor Joss Whedon pode ter pouca experiência como diretor de cinema, mas não é estranho em administrar grandes equipes. “Foi basicamente o que eu fiz em meu trabalho na TV com 'Buffy, a Caça-Vampiros', e até num filme pequeno que rodei, uma adaptação de 'Muito Barulho por Nada', de Shakespeare”, explica. “Em um filme assim, todo mundo precisa ter seu momento, e todo mundo precisa ser importante para a trama. Eu gosto de trabalhar assim, é meio que minha coisa. Talvez tenha sido por isso que me chamaram.”
De cara, Whedon teve de acalmar, se não um ego, mas uma personalidade forte. Logo na primeira reunião para decidir o rumo do filme, o ator Robert Downey Jr. o chamou de lado e disse que com certeza Tony Stark tinha de guiar a trama. “Tony Stark”, no caso, é o Homem de Ferro, que Downey interpretou no filme de 2008 e que ressuscitou sua carreira de forma espetacular. Stark é o personagem mais famoso da equipe e seria comercialmente natural que o projeto se tornasse “Homem de Ferro e Seus Amigos”. Os números não mentem, e os dois filmes do Vingador Dourado renderam US$ 1,2 bilhão – mais que a bilheteria combinada dos três outros filmes oficiais da Marvel, "O Incrível Hulk", "Thor" e "Capitão América: O Primeiro Vingador".
O plano de Whedon, por outro lado, era fazer do Capitão América o foco da narrativa. “Como ele é o peixe fora d’água, o homem fora de seu tempo, achei que seria interessante conduzir este novo mundo por seus olhos”, explica o diretor. “Mas seria um erro. O mais interessante em criar um filme assim é dar espaço a cada um e deixar que o texto dê a eles a chance de brilhar.”
Preparando o terreno
"Os Vingadores" nem é a primeira vez que Joss se viu com este dilema. Quando ele lançou a série "Astonishing X-Men" nos quadrinhos, o caminho óbvio era centrar a trama em Wolverine, de longe o mutante mais famoso da Marvel, e correr para o abraço. Na prática, o primeiro arco deu mais espaço a Colossus, personagem que inclusive se acreditava estar morto nos gibis e foi trazido de volta por Whedon.
Embora Joss Whedon tenha sido o diretor ideal para dar rumo ao desafio de concretizar "Os Vingadores" no cinema, a ideia já circulava na cabeça de Kevin Feige pelo menos desde 2006. Foi o ano em que ele se preparava para assumir a presidência do Marvel Studios, que dois anos antes havia adquirido mais de US$ 500 milhões como financiamento para trazer seus personagens para o cinema de forma independente – os direitos cinematográficos dos "X-Men", por exemplo, são da Fox; o "Homem-Aranha" é propriedade da Sony.
O acordo inicial da Marvel previa dez filmes em oito anos, envolvendo super-heróis como Pantera Negra, Capitão América, Homem-Formiga e Doutor Estranho. Quando Feige assumiu a presidência da Marvel em 2007, os direitos de Hulk e Thor haviam revertido de volta para a empresa, e Homem de Ferro já estava engatilhado.
“Na época eu sabia que os personagens principais de 'Os Vingadores' estavam em nossas mãos”, lembra Feige. “Mas juntar todos em um filme só parecia impossível.”
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Colocar Samuel L. Jackson como Nick Fury na cena pós-créditos de "Homem de Ferro" foi, mais que uma piada interna, uma forma de mostrar aos fãs que eles sabiam que aquele universo era maior e que trazia grandes possibilidades. Quando Homem de Ferro encostou nos US$ 600 milhões nas bilheterias mundiais, a possibilidade passou a se tornar uma ideia sólida.
"O Incrível Hulk", lançado no mesmo ano, trouxe definitivamente à tona a S.H.I.E.L.D, organização da qual Fury é diretor. Quando "Homem de Ferro 2" chegou aos cinemas, com Jackson no elenco principal e Scarlett Johansson como a Viúva Negra, "Os Vingadores" era apenas questão de tempo.
"Thor" e "Capitão América: O Primeiro Vingador" colocaram os últimos tijolos na fundação da aventura da superequipe – além de fornecer material precioso para a trama. O vilão de "Os Vingadores" é Loki (Tom Hiddleston), meio-irmão de Thor (Chris Hemsworth) que, ao fim do filme do Deus do Trovão, é perdido em um limbo cósmico – na cena pós-créditos ele é visto influenciando o cientista interpretado por Stellan Skarsgard a trabalhar com um aparato mostrado por Nick Fury, o Tesseract, ou Cubo Cósmico. Em "O Primeiro Vingador", o Cubo é o combustível das armas boladas pelo Caveira Vermelha durante a Segunda Guerra Mundial, num plano detido pelo Capitão América (Chris Evans). Quando Loki usa o poder do artefato para trazer um exército de conquistadores alienígenas para pulverizar a Terra, Fury convoca a equipe e nascem os Vingadores.
“Além de todo mundo ter de estar com a agenda livre, é complicado segurar a pressão dos dois lados”, confessa Feige. “Não queríamos um filme com um protagonista e vários coadjuvantes e não queríamos atores mais preocupados com seu nome no cartaz do que com o grupo. Conseguimos o melhor dos dois mundos.”
Chris Evans resume o espírito de equipe que contagiou o elenco: “Eu olhava para um lado e via Robert como o Homem de Ferro; olhava para o outro e estava Chris empunhando o martelo do Thor. Posso dizer que foi um trabalho que me deixava com um sorriso estampado no rosto”.
“Era como Onze Homens e Um Segredo”, brinca Feige. “O mais difícil é juntar todo mundo no mesmo lugar. Depois, é só deixar a coisa rolar.”
Talvez por isso que, logo depois da pré-estreia do filme em Los Angeles, com menos de um mês da estreia oficial da aventura, todo o elenco deixou a festa no cinema El Capitán e seguiu para o estúdio a fim de gravar mais uma cena misteriosa do longa. O movimento, denunciado na manhã seguinte por Robert Downey Jr. durante entrevista coletiva do filme, foi prontamente negado por Joss Whedon e por Kevin Feige – este dias depois revelou que eles se reuniram, sim, mas não para gravar uma nova cena, e sim para reparar outra. “A gente fez algo novo, sim”, dispara Mark Ruffalo, que interpreta Bruce Banner e seu alter-ego, o Hulk. “Só confesso que não faço a mínima ideia de que forma ela será encaixada no filme.”
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