Robert Rodriguez mostra camiseta do filme ''Machete'' no Festival de Veneza (1/09/2010)
“Machete”, o novo, sangrento e, porque não dizer, divertido novo filme do diretor texano Robert Rodriguez (“Sin City”), tem sua première mundial nesta quarta (1), como primeira sessão da meia-noite do Festival de Veneza. Mas o filme que evoluiu de um trailer de “À Prova de Morte” (2007), de Quentin Tarantino, era uma ideia que Rodriguez havia imaginado há 16 anos atrás, antes mesmo de fazer “El Mariachi”(92) - o marco inicial de sua carreira, como suposto filme de menor orçamento até então feito, anunciados US$ 7.000,00.
Quando precisou fazer o trailer, há três anos, o diretor lembrou-se do personagem Machete, um mexicano, ex-policial, que enfrenta na ponta de seu ‘machete’ (uma enorme lâmina, semelhante a uma peixeira) traficantes de drogas, políticos e agentes federais corruptos. No final, o projeto saiu bem diferente: “Tive que fazer o filme baseado no trailer, que teve uma resposta muito grande, e não na minha ideia original”, disse Rodriguez, em entrevista a um pequeno grupo de jornalistas nesta manhã, em Veneza, da qual participou o UOL Cinema.
Interpretado pelo veterano Danny Trejo (“Con Air – A Rota da Fuga”), Machete é, na visão do diretor, um herói universal. “Me perguntam porque ele tinha que ser latino, que ser mexicano. Para mim, quanto mais específico, mais universal. James Bond é britânico e todo mundo aceita. Eu mesmo sempre me identifiquei com a Austrália que há por trás de ‘Mad Max’”, afirmou.
Rindo, ele contou que o colega mexicano Guillermo del Toro (“O Labirinto do Fauno”) costuma dizer que Rodriguez cria em seus filmes “um México que não existe”, o que ele reconhece ser totalmente verdadeiro. “Eu uso o México como um elemento de fantasia. Gosto de ver o mundo através desse estado de sonho que dura enquanto o filme está sendo exibido”, define.
Ainda que a grande intenção de “Machete” – que estreia nesta sexta (3) nos EUA e em 15 de outubro no Brasil – seja divertir, há todo um pano de fundo discutindo a exploração e perseguição de imigrantes mexicanos ilegais. Entre os principais personagens, há um senador (interpretado por Robert De Niro) que tenta se reeleger com uma plataforma de expulsão e perseguição a estes imigrantes; e um policial da fronteira (Don Johnson, da série “Miami Vice””) que os persegue e mesmo mata, inclusive uma mulher grávida, o que repetiu, inclusive, um incidente real ocorrido nos EUA.
Rodriguez garante que se trata de “mera coincidência”. Para ele, seu filme “não é sobre imigração”. O diretor garante que todos esses problemas já existiam há 16 anos, quando pensou pela primeira vez na história. Por isso, não gostaria também de ver “Machete” transformado num manifesto político. Para ele, “tudo isso torna meu filme mais relevante e, espero, mais excitante de assistir”. Entretanto, reconhece que há estados nos EUA, como o Arizona, que estão “tentando as soluções erradas” na questão da imigração”. E arremata: “Em algum momento, o governo vai ter que fazer algo a respeito”.
Rodriguez comenta que é parte de seu estilo de trabalho reciclar ideias antigas. Ele costuma guardá-las em arquivos de computador e informa manter diversos backups, por garantia. Também não é, como alguns podem imaginar, fissurado em tecnologia: “A arte está no que ela é, em contar uma história. Para mim, não é relevante usar ou não uma câmera digital”.
O cineasta contou também que pretende trabalhar novamente com o ator espanhol Antonio Banderas, o protagonista de “A Balada do Pistoleiro”(95), sequência de “El Mariachi”. E diz que “escreveu um papel” especialmente para ele em seu próximo filme, “Spike”, sobre o qual ele não quer falar muito a respeito.