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04/09/2010 - 12h44

Comédia de François Ozon e documentário de Martin Scorsese animam sábado em Veneza

NEUSA BARBOSA
Do Cineweb, de Veneza
  • Da esquerda para a direita: Fabrice Luchini, Karin Viard, Catherine Deneuve, François Ozon e Judith Godreche da comédia Potiche posam para foto durante Festival de Veneza

    Da esquerda para a direita: Fabrice Luchini, Karin Viard, Catherine Deneuve, François Ozon e Judith Godreche da comédia "Potiche" posam para foto durante Festival de Veneza

Duas comédias, uma francesa, outra italiana, despertaram fortes emoções neste primeiro final de semana do Festival de Veneza. Emoções contraditórias, inclusive. A francesa, “Potiche”, provocou muitas risadas e mesmo aplausos finais na sessão de imprensa, nesta manhã de sábado, despertando comentários sobre a volta à grande forma na comédia do experiente e premiado diretor François Ozon. A italiana, “La passione”, de Carlo Mazzacurati, já não teve a mesma unanimidade. Ambas concorrem ao Leão de Ouro.

Fora da corrida pelo Leão de Ouro, o documentário de Martin Scorsese e Kent Jones sobre o diretor Elia Kazan, “A Letter to Elia”, foi uma das atrações mais concorridas deste sábado – com direito a tumulto, empurra-empurra e gritos de “vergonha!” por parte de jornalistas e espectadores que tentavam entrar na Sala Grande. Nesta première mundial do filme, a prioridade de entrada era para o público, ou seja, os portadores de ingressos ou convites.

De todo modo, os privilegiados que puderam assistir a esta sessão (muita gente ficou de fora, porque a sala lotou), não tiveram do que reclamar. Scorsese assina aqui uma apaixonada mas muito bem-fundamentada declaração de amor por Kazan, comentando trechos de seus filmes, como “Sindicato de ladrões” (54) e “Vidas Amargas” (55).

O cineasta também se posiciona sobre a grande mancha no passado de Kazan, sua colaboração com o macartismo, o famoso depoimento ao Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas, em 1952, no qual delatou antigos companheiros comunistas do Group Theater. Scorsese fez, afinal, o balanço de uma vida e de uma personalidade extremamente ricas e, indubitavelmente, de fundamental contribuição ao cinema. “A letter to Elia” terá apenas mais uma única sessão no festival, amanhã, que promete ser ainda mais conturbada, já que será numa sala muito menor, a Pasinetti.

Comédia feminista

Em “Potiche”, François Ozon retoma, como em “8 mulheres” (2002), um filme de gênero e de época, embaralhando clichês de melodrama e comédia de boulevard, além de contar com um elenco estelar e afiado – Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Jéremie Renier e Karin Viard. Mas não se trata de um roteiro original e sim da adaptação (do próprio Ozon) de uma peça com o mesmo nome, de autoria de Barillet & Grédy.

La Deneuve interpreta uma rica burguesa, Suzanne Pujol, uma rainha do lar um tanto fútil que sai de sua rotina ao assumir a direção de sua empresa de guarda-chuvas, herdada de seu pai mas dirigida por seu marido, Robert (Fabrice Luchini). Isto acontece no meio de uma greve na empresa, que provoca uma crise cardíaca no marido, logo depois de ser mantido refém pelos grevistas.

A reviravolta permite não só que “Potiche” inclua uma série de comentários irônicos sobre a política como sobre o passado nem tão pudico de madame Pujol – que esconde um antigo caso com o prefeito comunista e sindicalista, Babin (Gérard Depardieu).

O clima farsesco ganha um reforço com a deliciosa trilha sonora, que ressuscita alguns sucessos dos anos 70 – época da história – como “Emmène-moi danser ce soir”, com Michèle Torr, “More than a woman”, dos Bee Gees (moldura de uma deliciosa cena à la “Embalos de Sábado à Noite”, envolvendo Deneuve e Depardieu) e “C’est beau la vie”, interpretada pela própria Deneuve.

Paixão de Cristo

Tanto quanto os afinados intérpretes de “Potiche”, um dos que pode, mais pelo seu passado do que por outro motivo, ser um concorrente ao prêmio de melhor ator é o veterano Silvio Orlando (de “O Crocodilo”), que já venceu o mesmo troféu aqui em 2008, pelo melodrama “Il papá di Giovanna”. Agora ele volta como protagonista da comédia “La Passione”, de Carlo Mazzacurati.

Concorrendo pela quinta vez ao Leão de Ouro, Mazzacurati (“La lengua del santo”) dividiu opiniões, com uma forte acolhida da imprensa italiana e perplexidade e mesmo rejeição dos jornalistas estrangeiros.

Na história, um cineasta, Gianni Dubois (Orlando) vive uma crise depois de cinco anos sem rodar um filme. Sofre a pressão de um produtor, que lhe exige criar rapidamente um roteiro que interesse a uma jovem estrela de televisão. Ao mesmo tempo, é praticamente chantageado por uma prefeita (Stefania Sandrelli, de “O Jantar”) a assumir a direção do espetáculo da Paixão de Cristo na pequena cidade toscana em que mora, já que Dubois, por negligência com os encanamentos de seu apartamento, causou danos a preciosos afrescos de uma antiga capela.

Como se poderia esperar, a montagem da Paixão revela-se uma sucessão de acidentes, bem como o encontro do cineasta com a estrelinha da TV. O principal prejuízo para o ritmo do filme, porém, está no roteiro confuso (assinado por quatro pessoas, inclusive Mazzacurati) e, pior ainda, com algumas cenas de humor muito grosseiro.

Drama russo

Outro concorrente ao Leão de Ouro exibido na noite de sexta foi o único russo da seleção principal, “Ovsyanki (Silent Souls)”, de Aleksei Fedorchenko. Enxuto – apenas 1h15 de duração -, o filme mostrou, apesar disso, uma densidade notável, ao contar a história de dois homens, Miron (Yuri Tsurilo) e Aist (Igor Sergeyev), que vão sepultar a mulher do primeiro seguindo os rituais da comunidade Merja (uma minoria étnico/cultural da Rússia que descende dos finlandeses).
 

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