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05/09/2010 - 13h47

Através da comédia "Potiche", François Ozon faz crítica ao chauvinismo na França atual

NEUSA BARBOSA
Do Cineweb, em Veneza
  • O francês Francois Ozon, diretor da comédia Potiche, dá autógrafos antes da première do longa no sábado (4), durante o 67º Festival de Veneza

    O francês Francois Ozon, diretor da comédia "Potiche", dá autógrafos antes da première do longa no sábado (4), durante o 67º Festival de Veneza

Aclamado por público e crítica com sua nova comédia, “Potiche”, o diretor francês François Ozon não esconde a alegria pela acolhida no Festival de Veneza, onde concorre ao Leão de Ouro. Depois do drama “O Refúgio” – que tem estreia marcada para dia 10 de setembro no Brasil -, ele conta, em entrevista ao UOL Cinema, que está feliz em “voltar à comédia e aos anos 70 (época de sua história)”. Por quê? “Aquele foi o tempo da minha infância. Por isso, não tive que fazer tanta pesquisa”, admite. Mas a principal razão para voltar ao período está na atualidade: “Vejo muitas semelhanças com a França de hoje”.

Estas semelhanças, no entanto, não são tão positivas. Para Ozon, sobrevive na França atual “um grande chauvinismo, uma enorme diferença entre homens e mulheres”, tal como existia há 40 anos atrás. Ele percebeu isso, curiosamente, na última campanha eleitoral francesa, em 2007, quando concorria uma candidata mulher, Segolène Royal. Apesar de ela pertencer ao Partido Socialista, o cineasta acha que vieram da esquerda “as colocações agressivas contra ela”. No seu entender, o atual presidente, Nicolas Sarkozy, “não é misógino”. Ele gosta de mulher”, diz, rindo.

Este sentimento feminista levou Ozon a reler a peça “Potiche”, de Barillet & Grédy, que lhe serviu de base para escrever o roteiro da comédia que levou à tela, estrelada por Catherine Deneuve, Gérard Depardieu e Fabrice Luchini. No enredo, Catherine interpreta uma rica dona de casa que sai de sua passividade ao assumir a direção da empresa de sua família – uma fábrica de guarda-chuvas – e, a partir daí, descobrir talentos insuspeitos e tentar a carreira política.

Sindicalismo de resultados

  • Getty Images

    Em "Potiche" Catherine Deneuve interpreta o papel de uma rica burguesa, Suzanne Pujol

A política entra no filme também pela figura de Babin (Depardieu), um ex-sindicalista que se tornou prefeito. Para Ozon, foi justamente no retrato da esquerda que ele teve que trabalhar mais para uma atualização relativa da história. “O Partido Comunista na França, pelo menos, mudou muito. Naquela época [anos 70], ele era muito importante. A sociedade então era muito dividida entre esquerda e direita”, assinala.

O diretor conta ter “muita ternura” pelo personagem de Babin e seus conflitos. Por isso, o seu retrato do personagem está longe de ser negativo, e sim nostálgico: “Você sente que é um adeus a um certo tipo de visão de mundo”.

Esses elementos reais, para ele, ajudam o ritmo do humor: “Para que uma comédia funcione, você precisa de um contexto muito bom, muito realista, em que se possa acreditar. E também funciona tão bem porque estão na tela Catherine e Gérard”.

Os dois atores, aliás, fazem de tudo, inclusive dançar juntos um número à la John Travolta em “Os Embalos de Sábado à Noite” e cantar (o que Catherine faz no final). Ozon admite que poderia ter feito um musical – como em “8 Mulheres” (2002, onde atuava também La Deneuve). Mas desistiu, segundo ele, porque Depardieu “é um péssimo dançarino”.

Ozon também não acredita em fazer filmes para o público de todo o mundo. Admite que tenta fazer os seus “os mais franceses possível” e que não acha que isso seja um problema para sua aceitação em outros lugares. “Mesmo assim, as pessoas podem se identificar com eles”, acredita.

O cinema de autor, para ele, continua precisando de apoio, inclusive dos festivais. Senão, diz, “só veremos nas telas blockbusters americanos”.
 

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