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07/09/2010 - 12h40

Apostas em Veneza mudam dia a dia, mas chinês "Detective Dee", de Tsui Hark, mantém a dianteira

NEUSA BARBOSA
Do Cineweb, em Veneza
  • Cena do filme chinês Detective Dee, de Tsui Hark

    Cena do filme chinês "Detective Dee", de Tsui Hark

A cinco dias da premiação do festival, a bolsa de apostas da edição diária da revista “Variety” aponta algumas mudanças na eleição dos favoritos a levar o Leão de Ouro este ano. Resultado de consultas com jornalistas italianos e estrangeiros, a tabela da “Variety” vem consagrando nos últimos dias “Detective Dee and the Mystery of the Phantom Flame”, uma suntuosa aventura histórica, de artes marciais e muitos efeitos especiais, dirigida pelo veterano diretor de ação de Hong Kong, Tsui Hark (“Caçadores de Vampiros”).

O filme atingiu a nota 7,6, quase empatado, porém, com o drama político chileno “Post Mortem”, de Pablo Larraín – fazendo bonito como único representante latino-americano na competição principal – e a comédia italiana “La Passione”, de Carlo Mazzacurati, ambos atingindo nota 7.5.

  • Divulgação

    Cena do filme chileno ''Post Mortem'', em competição no Festival de Veneza 2010

Muito elogiados, o drama “Somewhere”, de Sofia Coppola (EUA) e a comédia francesa “Potiche”, de François Ozon, caíram para quarto lugar nas preferências do júri da “Variety”, com cotação 7,2. Ontem, passou-os, por bem pouco, é verdade, o filme-surpresa desta seleção, outro chinês, “The Ditch”, de Wang Bing, agora em terceiro lugar. Primeira ficção da carreira do documentarista Bing, o filme impressionou pela densidade com que reconstitui o cotidiano de um campo de concentração no deserto de Góbi, em 1960, auge da Revolução Cultural na China. Submetidos às mais duras condições, estes prisioneiros passam fome e chegam a recorrer ao canibalismo.

A contundência de “The Ditch” causou polêmica na coletiva de imprensa, quando o diretor fez questão de dizer: “Não creio que seja um filme de protesto ou denúncia. Eu o fiz para recordar e respeitar a memória destas pessoas”. Indagado se, por este conteúdo crítico, a produção poderá ser censurada na China, Bing chegou a alterar o tom de voz para responder: “Não existe, para mim, filme clandestino ou oficial. Este é o fruto do meu trabalho, do meu esforço em manter minha liberdade criativa. Não tenho que pensar se vai ser exibido ou não”.

Novos concorrentes

De qualquer modo, ainda é muito cedo para fechar as apostas. O quadro pode mudar inteiramente amanhã, a partir da projeção dos concorrentes da reta final, como os três exibidos nesta manhã e início de tarde.

O primeiro deles é “Balada Triste de Trompeta”, o único candidato espanhol da disputa pelo Leão de Ouro, uma frenética mistura de drama e comédia de humor negro do diretor Álex de la Iglesia (de “Perdita Durango” e “Crime Ferpeito”). Um candidato que, pela sua dose de sangue e devoração de referências pop, tem cara de que vai agradar muito ao presidente do júri principal, Quentin Tarantino.

A história começa durante a Guerra Civil espanhola, em 1937, quando um palhaço (Santiago Segura) é convocado, contra a vontade, pelos republicanos, para lutar contra os franquistas. Anos depois, é seu filho, Javier (Carlos Areces) quem será palhaço num circo, ainda durante o franquismo. E formará, com outro palhaço, Sergio (Antonio de La Torre) e a acrobata Natalia (Carolina Bang), um triângulo amoroso fatal.

Na coletiva de imprensa, o diretor definiu o filme como “uma história de amor, louco, mas amor. E também de humor e horror”. Indagado sobre a razão de sua referência à Guerra Civil – que o diretor, de 45 anos, não viveu diretamente –, Iglesia declarou: “Temos um passado muito doloroso que, de várias formas, condiciona o presente. Vivemos essa guerra (a Guerra Civil) através de nossos pais, de nossos avós. Isso muda nossa vida, assim como destroça o protagonista do filme”.

Para Iglesia, “Balada triste de trompeta” é, justamente, sua tentativa de um “exorcismo ritual” desse passado espanhol. “Esta é minha maneira de arrancar de mim esse passado, para enterrá-lo, através da ironia, do humor negro”, explicou.

Nouvelle Vague grega

“Attenberg”, da diretora grega Athina Rachel Tsangari, foi uma boa surpresa entre os concorrentes vistos hoje. Combinando uma leveza na condução da câmera e dos atores que lembra o espírito da Nouvelle Vague francesa dos anos 1960, a diretora e roteirista compõe na tela a história de Marina (Ariane Labed), jovem de 23 anos que ainda é virgem, procura descobrir o sexo e tem de confrontar-se com a iminente morte do pai, Spyros (Vangelis Mourikis).

Num estilo bem diferente, veio o terceiro candidato italiano, o longuíssimo “Noi Credevamo”, de Mario Martone – com 3h24 de duração -, que passou em revista o processo de unificação da Itália, no século XIX. Com muito fôlego, um elenco cheio de nomes conhecidos – como o italiano Luigi lo Cascio (“Os 100 passos”), Toni Servillo (“Gomorra”) e a inglesa Fiona Shaw (“Harry Potter e a Ordem do Fênix”) – mas uma dificuldade clara de comunicação com um público que não tenha conhecimento profundo daquele período histórico.

 

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