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11/09/2010 - 12h31

"Eu queria que sentissem o cheiro de Madri na tela", diz Andrucha Waddington sobre "Lope", exibido em Veneza

NEUSA BARBOSA
Do Cineweb, em Veneza
  • Alberto Ammann (Lope de Vega) e Sonia Braga em cena do filme ''Lope''

    Alberto Ammann (Lope de Vega) e Sonia Braga em cena do filme ''Lope''

Único longa com alguma participação brasileira da seleção do Festival de Veneza este ano, a coprodução Espanha/Brasil “Lope”, de Andrucha Waddington, representa, para o diretor de “Casa de Areia” (2005), sua primeira investida no mercado internacional. O que, se não deslumbra o cineasta, inegavelmente muda suas perspectivas profissionais já no curto prazo. Filme de época que recria livremente parte da juventude do poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562-1635), “Lope” foi apresentado na noite de ontem, fora de competição.

Neste momento, Andrucha analisa quatro novos projetos, dois deles no exterior – um na Ucrânia, outro na Inglaterra. Os outros dois são histórias originais ambientadas no Brasil. Mesmo o projeto ucraniano tem um aspecto pessoal: “Minha mãe é ucraniana e essa é um pouco uma história que se passou com ela”, contou o diretor, em entrevista ao UOL Cinema. Ele acrescentou que nada está certo ainda: “Não gosto de falar dos meus projetos futuros. Vamos ver qual rola primeiro”.

ASSISTA AO TRAILER DE "LOPE"

Neste momento, o cineasta ainda está bastante focado na estreia brasileira de “Lope”, que está marcada para 26 de novembro próximo. Ele comenta que sofreu “preconceito” por parte da imprensa espanhola quando “Lope” foi lançado naquele país, no primeiro semestre. “Na verdade, 20% da imprensa foi muito agressiva por ser um diretor brasileiro falando do Lope. E eu tive a cara de pau de fazer. Mas por que a gente não pode falar de personagens e histórias que não sejam inerentes à nossa própria cultura? Cinema é uma arte universal. O cinema americano importa diretores desde sempre, de Billy Wilder a Ang Lee”.

Liberdades e realismo

Trabalhando com um período pouco conhecido e documentado da vida do poeta, o roteiro de Jordi Gasull e Ignácio Del Moral interessou ao diretor justamente por tratar dessa fase de formação do artista quando jovem. “É o Lope antes do Lope”, definiu.

Preparando a produção por quatro anos – de 2005 a 2009 -, Andrucha acabou por permitir-se o que chama de “licenças poéticas”. Ele cita algumas: “Lope não fugiu até Portugal, como mostra o filme. Nem sua relação com as duas mulheres, Elena e Isabel, aconteceram ao mesmo tempo. Juntamos cinco anos da vida dele em um. Então, eu sigo a máxima de John Ford: entre a realidade e a lenda, vou para a lenda. Até porque nunca tive a pretensão de fazer um documentário”. Algumas dessas liberdades já estavam previstas no roteiro, outras foram incorporadas pelo diretor nas filmagens, que consumiram 10 semanas, entre a Espanha e a cidade de Assauira, no Marrocos.

Também em relação ao protagonista, o diretor contrariou a primeira intenção dos produtores, que desejavam buscar um ator conhecido. Ele, ao contrário, não queria nem um ator famoso, nem televisivo. Acabou encontrando, por meio de um teste, o argentino Alberto Ammann, faltando apenas cinco semanas para o início da rodagem. Um detalhe, que, ele reconhece, também causou alguma preocupação. “Um ator argentino para viver Lope, para alguns, é uma grande piada. Mas, como eu disse, cinema é uma arte universal”. Ele rechaça críticas de alguns jornalistas espanhóis quanto ao seu sotaque: “Alberto cresceu na Espanha até os 11 anos. Por isso, todos os espanhois da equipe até acharam que ele era de Valência”. O ator, que não veio a Veneza, está filmando uma campanha publicitária para a Chanel.

Já em relação à ambientação do século 16, Andrucha procurou o máximo de realismo. Buscou referências visuais no Museu do Prado, em Madri, em telas de pintores como Velázquez. A cidade marroquina de Assauira forneceu os cenários de que necessitava para reproduzir a Madri medieval, que hoje já não existem na capital espanhola.

Andrucha conta que procurou afastar-se da maioria dos filmes de época, “sobretudo os espanhois”, que, na sua visão, trazem “uma maneira de atuar muito impostada, com vestuários muito limpos e uma caracterização, a meu ver, muito teatral. Na época, não era assim”. Tendo como base suas pesquisas sobre o período, o diretor optou por “fazer uma Madri suja, fedorenta, como era mesmo então. Todos os relatos históricos apontam que se podia sentir o cheiro da cidade a 20, 30 km de distância. Eu queria que o espectador sentisse o cheiro na tela. Por isso, as unhas sujas, os dentes podres, as roupas sempre reutilizadas”. Para este realismo extremo, Andrucha revela que o seu modelo é o filme francês “A Rainha Margot”, de Patrice Chéreau, de 1994.

Atrizes

Outro toque moderno da história é o comportamento das duas mulheres da vida de Lope no período, as muito aguerridas Elena Osorio (Pilar López de Ayala) e Isabel de Urbina (Leonor Watling, de “Fale com Ela”).

Presentes em Veneza, as duas atrizes contaram ter adorado trabalhar com o diretor brasileiro. “É muito fácil trabalhar com ele. É muito criativo e te encoraja a improvisar. Ele adora improvisar”, conta Pilar, que recentemente foi protagonista do ainda inédito no Brasil “O Estranho Caso de Angélica”, de Manoel de Oliveira. Da mesma maneira, Leonor disse que, para o cineasta, “a prioridade eram os atores”. E também revela que aceitou atuar neste projeto por causa de seu “prestígio” e dos filmes que ele havia realizado.

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