Diretor diz que final de "Jogos Vorazes 2" foi inspirado em "Breaking Bad"
Rodrigo Salem
Do UOL, em Los Angeles (EUA)
13/11/2013 16h06
"Jogos Vorazes” nunca escondeu seu desejo de seguir o sucesso de outra franquia jovem: “Crepúsculo”. É a adaptação de uma série de sucesso, a trilogia escrita pela americana Suzanne Collins. Tem sua cota de angústia adolescente, mesmo que não haja vampiros e lobisomens brigando pelo amor de uma garota. E teve seu último episódio, “A Esperança”, dividido em dois anos (2014 e 2015), assim como “Amanhecer”.
Mas o diretor Francis Lawrence ("Eu Sou a Lenda") quebrou a cadeia de semelhanças quando assumiu o segundo capítulo da série, “Jogos Vorazes: Em Chamas”, que estreia nesta sexta-feira (15) no Brasil. “Eu estava na preparação do filme quando comecei a pensar no que diabos fariam com 'A Esperança'. Não sabia se iam querer fazer igual à 'Crepúsculo', que teve vários diretores”, revela o cineasta, que entrou no lugar de Gary Ross (“A Vida em Preto e Branco”), demissionário da franquia por “razões pessoais”.
“Seis semanas depois, Nina Jacobson [produtora da série], me perguntou se eu gostaria de dirigir os últimos longas, antes mesmo de ver qualquer cena rodada de 'Em Chamas'. Eu nunca contrataria um diretor antes de ver seu primeiro filme pronto. Foi uma atitude de muita confiança”, acredita.
Bilheterias internacionais
A confiança veio de algum lugar. Ao contrário da grande maioria das franquias hollywoodianas, “Jogos Vorazes” não espelhou o fenômeno de bilheteria nos Estados Unidos (US$ 408 milhões) no mercado internacional (US$ 283 milhões) --no Brasil, o filme atraiu 1,9 milhão de espectadores, longe da lista dos dez maiores filmes de 2012.
Já Lawrence é conhecido por filmes que costumam ter um excelente desempenho fora das fronteiras americanas: “Constantine” (2005) rendeu US$ 150 milhões internacionalmente, o dobro do faturamento nos Estados Unidos, enquanto “Eu Sou a Lenda” (2007) faturou US$ 328 milhões no resto do planeta --contra US$ 250 milhões nos EUA. “Não houve nenhuma pressão para repetir esse desempenho e não creio que tenha sido contratado por esse talento”, rebate o cineasta. “Mas claro que será ótimo se conseguir conquistar o mercado internacional.”
Não será difícil. “Jogos Vorazes: Em Chamas” consegue ir além nos temas apresentados no primeiro longa de Ross e é claramente mais ambicioso visualmente, tirando proveito do orçamento de US$ 140 milhões --contra os US$ 80 milhões do anterior. “Muitas decisões estéticas foram tomadas no primeiro filme, mas sabia que havia mais território para explorar”, conta Lawrence, que teve território para explorar, mas quase nenhum tempo para pensar sobre a decisão de assumir a popular franquia. “Tudo aconteceu mais rápido do que eu imaginava. Me ligaram na quinta-feira para perguntar se eu queria o trabalho. No fim de semana, eu já trabalhei de oito a dez horas com Suzanne Collins no tratamento do filme.”
Sequência da história
Tudo isso porque Lawrence não gostou dos dois primeiros rascunhos do roteiro apresentados por Simon Beaufoy, de “Quem Quer Ser Um Milionário?”. “Eu assinei o contrato para adaptar o livro. E foi isso que fiz com Suzanne: pincelamos tudo que queríamos ver no filme e passamos isso para o novo roteirista”, confirma Lawrence. Beaufoy ainda ficou com o nome nos créditos de “Em Chamas”, mas foi Michael Arndt (“Toy Story 3”) que levou o texto do segundo capítulo para 2h25 de duração do filme. “Foi o roteiro mais longo que filmei, mas achei necessário, porque há muita história para contar.”
Neste caso, a série sobre os guerreiros Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peeta Mellark (Josh Hutcherson) do Distrito 12, que provocaram a rebelião popular ao serem declarados vencedores dos últimos Jogos Vorazes, é ainda mais fiel ao lado crítico da autora. O segundo capítulo é muito menos sobre a manipulação da mídia no controle das massas e bem mais sobre como rebeliões surgem e cobram um preço.
“Eu estava interessado em discutir como a violência danifica as pessoas, porque os personagens já haviam passado por uma batalha antes”, afirma o diretor. “Não quero dizer que a rebelião não é necessária. Ela é, mas é preciso entender que há um preço a se pagar. Pessoas serão transformadas para sempre. Isso reflete no comportamento Katniss, que está mais paranoica e sofrendo com pesadelos”, conta.
Trailer de "Jogos Vorazes: Em Chamas"
Ousadia
Francis Lawrence não está brincando. “Em Chamas” ultrapassa os limites do que é considerado um filme infanto-juvenil. Jennifer, que acabou de ganhar o Oscar de melhor atriz por “O Lado Bom da Vida”, novamente é a força motriz do longa. Ela faz uma Katniss angustiada e relutante em assumir o papel de líder da rebelião. Para ela, o mais importante é cumprir a promessa de levar comida à população do pobre Distrito 12. Para isso, precisa corromper a alma. O presidente Snow (Donald Sutherland) a convoca para uma tour pela nação de Panem, quando ela nota a opressão das tropas da Capital e os primeiros sinais de um movimento que ganhará forma em “Jogos Vorazes: A Esperança”, capítulo derradeiro que foi dividido em dois filmes, previstos para 2014 e 2015.
Para se ter uma ideia da ousadia de “Em Chamas”, boa parte do filme se passa antes de Katniss e Peeta retornarem à arena de lutas em uma armação de Snow que os coloca contra vencedores de anos anteriores. E termina de forma tão abrupta que fará os fãs de “O Senhor dos Anéis” gargalharem de alegria.
“Termino da maneira que o livro acaba”, explica Lawrence sobre o final do filme que, segundo ele, também teve influências da série "Breaking Bad". “Só preciso falar que eu estava viciado em ‘Breaking Bad’ durante as filmagens. E cada episódio começa e termina de uma maneira muito forte. A diferença de ‘Jogos Vorazes’ para ‘Breaking Bad’ é que precisaremos esperar um ano para o próximo episódio”, brinca.
Caras novas
E assim como a série estrelada por Bryan Cranston e Aaron Paul, “Em Chamas” traz novas faces para a luta. Philip Seymour Hoffman (“O Mestre”) aparece como o novo produtor da arena, o misterioso Plutarch Heavensbee; Jeffrey Wright (“007: Cassino Royale”) vive o hacker Beetee, um aliado de Katniss nas lutas; e Sam Claflin (“Branca de Neve e o Caçador”) como Finnick Odair, um dos queridinhos das fãs.
“Ele é descrito como o homem mais bondoso da história, como vou me equiparar a isso?”, diz Clafin, que recebeu sua cota de reclamações por não ser o preferido das garotas, mas nada comparado ao que sofreu Wright. “Eu não me importei pelo fato de não aceitarem Beetee como um homem negro. O que me magoou mesmo foi ter sido chamado de um ator frio. O que diabos é um ator frio?”, reclama.
Como Francis Lawrence, que já está trabalhando nos dois próximos filmes. “Não é fácil sobreviver aos ‘Jogos Vorazes’, mas isso é apenas o começo”, instiga o cineasta. “Pode esperar por ‘A Esperança’. A guerra apenas começou.”