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Com alterego, diretor faz comédia de erros com drama da classe média

"Casa Grande", de Fellipe Barbosa, conta a história de Jean, um adolescente rico que luta para escapar da superproteção dos pais - Divulgação
"Casa Grande", de Fellipe Barbosa, conta a história de Jean, um adolescente rico que luta para escapar da superproteção dos pais Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em Paulínia (SP)

27/07/2014 08h00

Antes da exibição de "Sangue Azul", uma comédia de erros da classe média-alta carioca fez a plateia rir no Festival de Paulínia na noite de sexta-feira (25). "Casa Grande", longa de estreia de Fellipe Barbosa, no entanto, revela camadas e se mostra, acima de tudo, um filme sobre classes, como "O Som ao Redor". 

O nome vem, inclusive, da obra de Gylberto Freyre, "Casa Grande e Senzala". A casa grande, no filme, se trata literalmente do lar de uma família burguesa que começa a ruir financeiramente após o pai (Marcelo Novaes) perder todo o dinheiro no mercado de ações.

Fellipe Barbosa - Divulgação/FestivaldePaulínia - Divulgação/FestivaldePaulínia
Fellipe Barbosa apresentava seu filme em Paulínia ao lado da atriz Suzana Pires
Imagem: Divulgação/FestivaldePaulínia

"Percebi que eu tinha que colocar o humor. Não queria fazer um melodrama, por que, afinal, qual é o grande drama? A família tinha quatro carros na garagem e perdeu dois? É algo que, para mim, é engraçado", contou o diretor em encontro com a imprensa neste sábado (26).

O filme, que teve seu roteiro co-escrito por Karen Sztajnber trabalhado em um laboratório de roteiros em Sundance, conta a história de Jean, um adolescente rico que luta para escapar da superproteção dos pais. Thales Cavalcanti, aluno do colégio São Bento, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, foi escolhido para viver o jovem e traz uma naturalidade impressionante para a atuação. Algo que permeia em todos o filme.
 
Jean, no entanto, guarda uma relação pessoal com o cineasta. "A história do filme 
estava acontecendo com a minha família quando eu estava fazendo mestrado em Nova York. É uma fantasia. O que aconteceria se eu estivesse no Brasil quando aconteceu isso com meu pai? Botei uma lupa. É uma espécie de alterego meu e do meu irmão", explica Barbosa.
 
Barbosa, que estudou durante toda a vida no colégio, teve então que se virar para pagar as despesas dos estudos. Agora, em um momento em Eike Batista, um dia um dos homens mais ricos na lista da Forbes, perde suas riquezas, e a elite brasileira questiona os programas sociais do governo, o cineasta discute as questões sociais de maneira crítica. "Eu não me sentia confortável em ser um dos dois amigos mais ricos do colégio. Tive uma tomada de consciência das contradições na casa grande e na própria cidade", observa.