Com boa audiência, "Medos Privados" revive amor com público no Belas Artes
Acreditava-se que o fechamento do Cine Belas Artes de São Paulo, em 2011, colocaria um fim ao triângulo amoroso formado pelo cinema da Rua Consolação, pelos espectadores e pelo filme "Medos Privados em Lugares Públicos" (2006). O filme, que estreou em 2007, ficou em cartaz no local por três anos e meio até a sala fechar, sendo visto por mais de 80 mil pessoas na época. Mas a reabertura da casa, agora com o nome de Caixa Belas Artes, mostrou que, quando é verdadeiro, o amor sobrevive ao tempo e a rolos de película parados.
Antes mesmo da reinauguração, o administrador do espaço, André Sturm, decidiu que o filme deveria estar entre os longas que reabririam a programação. "Quero que as pessoas acreditem que o Belas Artes nunca fechou", brincou Sturm, mostrando que, na verdade, a ideia era não perder a piada. No entanto, a brincadeira agora virou caso sério outra vez.
Em cartaz há 11 dias, o longa francês dirigido por Alain Resnais já foi visto por mais de 600 pessoas desde a reabertura. O último dia de "vida" do filme na telona seria esta quarta-feira (30), mas o relativo sucesso fez com que seu prazo final fosse adiado mais uma vez: está confirmado que a produção fica até dia 7 de agosto em cartaz.
A data, no entanto, não é garantia de que o longa realmente deixará a programação do Belas Artes porque, segundo Sturm, a audiência vai bem, obrigado. "As duas sessões de sábado e domingo [final de semana da reinauguração do cinema] esgotaram e até agora a sala de exibição vem se mantendo com um bom número", informou ao UOL a assessoria de imprensa do espaço. Atualmente, o filme tem apenas uma sessão diária às 14h.
No dia da reabertura, a professora de português Aminah Haman passou mais de três horas na fila em busca de um ingresso para "Medos Privados", apesar de também haver estreias em cartaz naquele dia, como o argentino "O Estudante" e o brasileiro "Aos Ventos que Virão". "Não sei por que não vi o filme naquela época. Talvez por falta de tempo, mas agora não vou deixar passar", contou ao UOL. Já Thais Buena Mayer, que já havia assistido ao filme, queria revê-lo na reabertura pela importância histórica do momento. "Gosto muito desse cinema. É simbólico eu estar aqui na reinauguração e poder rever esse filme".
Mais de uma semana depois da estreia, o aposentado José Almiranda saiu da sessão nesta terça-feira (29) alheio ao caso que o cinema mantém com o filme de Resnais. "Não sabia dessas história. Escolhi esse filme porque sei que aqui passam produções boas. Você nunca vai me ver saindo da sessão de 'Planeta dos Macacos', por exemplo", disse ele, citando o blockbuster que recentemente entrou em cartaz na maioria das salas.
Léticia Marcon deixava a mesma sessão às 16h e também desconhecia a história por trás de "Medos Privados". "Tem certeza que é o mesmo filme que estava em cartaz aqui em 2011? Não é uma refilmagem?", questionou. Com a informação de que era a mesma produção, declarou: "Tinha escolhido porque tenho um queda por produções francesas, mas essa história acaba de agregar valor ao filme".
O filme
O enredo de "Medos Privados" gira em torno de seis personagens. Thierry (André Dussollier) é um corretor de imóveis que tenta encontrar a casa ideal para Nicole (Laura Morante) e seu noivo Dan (Lambert Wilson). Mesmo desempregado, Dan quer um dormitório a mais no apartamento para ser seu escritório. E em vez de procurar um emprego, prefere perder as tardes no bar onde Lionel (Pierre Arditi) é balconista. As histórias desses e mais dois personagens vão se entrelaçando durante o inverno parisiense.
Além desse longa de Resnais, o Caixa Belas Artes também exibe o último filme do diretor, "Amar, Beber e Cantar" (2014), que retrata uma peça de teatro ensaiada por um grupo de amigos. O cineasta morreu em março deste ano, aos 91 anos, e deixou outros filmes que o consagraram, como "Hiroshima, Meu Amor" (1959), "O Passado em Marienbad" (1961) e "Amores Parisienses" (1997).
Em entrevista à "Folha de S.Paulo", em março deste ano, André Sturm contou que o sucesso inicial de "Medos Privados" foi graças ao boca a boca. "Quando completou um ano no cinema, teve uma grande repercussão, e o público aumentou enormemente. A partir daí, virou meio que uma graça mesmo".
Sturm falou também que o sucesso prolongado do filme o intriga. "Acho que o Resnais tratava os personagens com carinho e afeto", opinou. "'Medos Privados' não tem um final feliz, mas há um certo otimismo: a vida é difícil, mas vale a pena continuar". A vida de "Medos Privados" no Belas Artes também continua, e por tempo indeterminado.
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