"Família", ator vetou nu frontal e diz que é o oposto de Christian Grey
Se no livro que deu origem ao filme "Cinquenta Tons de Cinza" a relação sadomasoquista de Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) é desvelada do ponto de vista da protagonista, no primeiro filme da trilogia, que estreia nesta quinta (12), o espectador vê o centro da narrativa se dividir de forma mais equânime entre os dois personagens.
Natural da Irlanda do Norte e conhecido do público até então pelo Conde Axel de “Maria Antonieta”, de Sofia Coppola, e o serial-killer Paul Spector da elogiada série “The Fall”, estrelada por Gillian “Arquivo X” Anderson, Jamie Dornan, 32, tem seu rosto e corpo espalhados por todas as grandes capitais do mundo ocidental esta semana.
O ex-modelo da Calvin Klein não foi a escolha original para viver o sádico Christian Grey –ele assumiu o posto depois do loiro Charlie Hunnam desistir da empreitada– mas jura que encarou o desafio com desenvoltura.
Ao contrário do personagem de rosto limpo --e capaz de dizer a Anastasia, com a cara mais lavada do planeta, “se você se sujeitar aos meus desejos, ganhará algo muito especial em troco: eu”--, Dornan é simpático, expansivo, pé no chão, e orgulhoso de sua barba hipster.
Na conversa exclusiva com o UOL, ele fala sobre a vida em família –é casado há dois anos com a atriz britânica, Amelia Warner, com quem tem uma filha–, a singularidade de ficar tanto tempo nu em cena (“só pedi para não ter nu frontal, embora não ache meu pênis vulgar, de modo algum”, diz, rindo) e como se preparou para os próximos anos, quando estará na mira dos tabloides e das alucinadas fãs.
Jamie Dornan
Eu não acho meu pênis vulgar. Mas achei desnecessário. Não se vê Dakota assim tão de perto, por que teriam de me ver?
UOL - Você e Dakota (Johnson) tiveram alguma fórmula para desenvolver a intimidade entre os dois que se vê no filme?
Jamie Dornan - As pessoas imaginam que houve um processo específico, mas, para ser bem honesto com você, tudo ocorreu muito naturalmente. Quando eu fiz o teste de elenco, a gente se deu bem de primeira, o que ajuda. Ela é uma figura, engraçadíssima, o que ajuda ainda mais. Sempre acho importante desenvolver uma boa relação com todos os colegas de set, mas neste caso era especial, por conta da natureza e da intensidade do tema abordado.
E imagino que vocês não tenham filmado em ordem cronológica...
Não! Ainda bem. Tudo o que acontece no "quarto vermelho", quando ele mostra os "brinquedos" S&M, foi filmado nos últimos dias. Aquelas foram as cenas em que a gente se expôs mais, principalmente a Dakota. Afinal, ela fica a maior parte do tempo nua, atada, amarrada, em um estado bem vulnerável para uma atriz à frente das câmeras. Mas quando isso aconteceu, já estávamos filmando todo dia por três meses, nós confiávamos um no outro, passávamos quase todo o tempo juntos, foi importante.
Está aí o tal "processo" então (risos). Você mencionou a exposição extrema dela, mas seu corpo também aparece desnudo durante boa parte do filme. Na exibição para a imprensa em Nova York, que foi aberta para o público, as mulheres, especialmente, gritavam, desmaiavam, em estado de êxtase, cada vez que seu personagem aparecia sem roupa na tela. Você está preparado para tamanha atenção?
Bem (rindo muito), que coisa, né? (faz uma pausa). Estou preparado na medida em que sabia que isso poderia acontecer. Mas qual é a melhor reação à paixão extrema dos fãs? Não há nada que eu possa fazer além de desejar que as pessoas gostem de verdade do filme e, como bônus, de minha atuação também.
E as fãs fora dos cinemas? E as revistas de fofoca?
Isso vai aumentar de intensidade, né? Olha, estou bem calmo. Minha vida é muito organizada. Sou casado [com a atriz inglesa Amelia Warner, de “Contos Proibidos do Marquês de Sade”], acabamos de ter um bebê [a menina Dulcie, de 1 ano], meus amigos são os mesmos desde que eu era um adolescente. Nada disso vai mudar. Ponto final.
Cinquenta Tons de Cinza - Críticas
Você teve de assinar um contrato com a produção tão detalhado quanto o que Christian propõe a Anastasia no filme, em seu caso focado nas cenas mais apimentadas?
Sim, mas o meu era bem mais simples e direto: disse que não apareceria 100% nu, mesmo nas cenas em que eu estivesse sem roupa. Ou seja, sem nu frontal. É possível me ver por detrás, não queria que fosse, hum...
Vulgar?
Não! Não é isso! (rindo muito). Eu não acho meu pênis vulgar (rindo mais). Mas eu achei desnecessário. Não se vê Dakota assim tão de perto, por que teriam de me ver?
Pergunte às suas fãs! Mas falando em Christian, você encontrou algo nele com que pudesse se identificar?
Foi difícil. Ele é um personagem complicado pra caramba, intenso, repleto de conflitos. Eu sou muito diferente dele. Tive de trabalhar duro. Não acho que você precise necessariamente gostar do personagem que está interpretando, mas é fundamental, para mim, encontrar algo, um detalhe que seja, para te dar uma luz inicial. Pode ser algo que você não goste nem nele e nem em você. Mas neste caso, ele é quase literalmente meu oposto.
E você conseguiu encontrar algo?
Embora as circunstâncias tenham sido completamente diferentes na minha vida do que a E.L. James imaginou para o Christian, eu, assim como ele, perdi minha mãe muito cedo. Quem passou por esta experiência brutal, penso, carregará algo muito específico consigo para o resto da vida. Foi daí que puxei o novelo para encontrar meu Christian.
Você decidiu pesquisar a fundo o universo S&M?
Sim. E decidi ver ao vivo uma prática sadomasoquista em Vancouver, no Canadá, durante as filmagens. Foi muito, muito interessante. Também pesquisei muito online e contei com um especialista no tema no set para responder quaisquer dúvidas que eu tivesse.
E qual a sua opinião sobre este mundo?
Não sabia absolutamente nada sobre o mundo de dominadores e submissos sexuais antes de embarcar neste projeto. Fiquei impressionado com o fato de a cena S&M ser muito maior do que eu pensava. E não apenas em grandes metrópoles, mas nos subúrbios e rincões mundo afora, por exemplo. Não me interessou pessoalmente, em experimentar de fato algo nesta linha, mas as pessoas que conheci têm, de verdade, prazer. Tudo é consensual, e o que mais me surpreendeu foi o quão diferente algumas experiências me pareceram do "quarto vermelho" do Christian.
Eram mais "hardcore"?
Eram mais divertidas, havia mais humor. O Christian vive o S&M bem nos termos dele, né? Ele quer sempre ter controle absoluto, e o que vi foram vários níveis de expressões sádicas e masoquistas. Em Vancouver, tinha muito mais risinhos do que no nosso filme (rindo).
Não é comum em Hollywood contar com a autora do livro no set durante as filmagens. Foi mais intimidante encontrar o seu Christian com E.L. James ao lado?
Ninguém conhece melhor os personagens, o Christian incluído, do que ela. Todos temos ideias e tivemos liberdade para conversar sobre as motivações de cada personagem. Mas há momentos, como em qualquer filme, em que o ator tem questões, por exemplo, por que Christian vai dizer isso ou aquilo? Foi um luxo ter a Erica para me responder.
Então, para você, o livro foi um guia tão importante quanto o roteiro e a direção?
Definitivamente. Foi importante voltar aqui e ali ao livro, que é mais substancial. Na noite anterior de cenas importantes, eu sempre relia os trechos, voltava ao livro.
Não ter sido a opção original de E.L. James para viver Christian foi complicado para você?
De modo algum. Isso acontece o tempo todo no cinema e coube a mim apenas aceitar o fato consumado. Não afetou a minha interpretação. Em nada.
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