"Os Dez Mandamentos" estreia com lugares vagos em sessões esgotadas
"Os Dez Mandamentos - O Filme" chegou nesta quinta-feira (28) aos cinemas com mais de 3 milhões de ingressos vendidos com antecedência em todo o país. Em São Paulo, porém, algumas salas que já estavam com as entradas esgotadas não lotaram.
O Cinemark do shopping Boulevard Tatuapé, na zona leste de São Paulo, computava quatro sessões esgotadas: 12h45, 15h30, 17h15 e 18h15. O local é um dos preferidos pelo público que mora na região e também um dos mais próximos ao Templo de Salomão, que pertence à Igreja Universal do Reino de Deus.
O movimento por ali, no entanto, passou longe da lotação. A cinco minutos da primeira sessão, às 11h45, a reportagem do UOL contou apenas 75 pessoas ocupando a sala 2, com capacidade para receber um público de 230. Mesmo depois de iniciado o filme, não entrou público suficiente para encher a sala. Na bilheteria, no entanto, restava apenas um ingresso para compra.
O mesmo fenômeno aconteceu 1h depois, na sessão das 12h45, cujos ingressos estavam esgotados desde o início da pré-venda. Na sala 3, a maior disponível no local, com 353 lugares, um público de cerca de 130 pessoas preenchia as poltronas.
Já no Espaço Itaú, no shopping Frei Caneca, também em São Paulo, o movimento foi abaixo do esperado. No início da pré-venda, há quatro semanas, todos os horários do cinema estavam esgotados no site Ingresso.com. Nesta quinta-feira, as sessões estavam novamente à venda tanto no site quanto na bilheteria do cinema. Até as 14h10, de quatro sessões do filme, nenhuma delas estava lotada --na primeira havia 74 pessoas e nas seguintes, 137, 158 e 156 ingressos vendidos.
Em comunicado ao UOL, a Paris Filmes, responsável pela distribuição nacional do longa, informou que as sessões com ingressos esgotados, mas sem a capacidade total do público preenchida "é fruto das ações de filantropia que foram promovidas por parceiros do filme". No informativo, a empresa diz ainda que a reportagem do UOL "leva em consideração uma visão limitada do cenário da estreia", e enviou imagens de sessões supostamente cheias em outros horários e locais.
Ingressos grátis
A Igreja Universal do Reino de Deus, cujos bispos e pastores controlam a Rede Record, responsável pela produção da novela transformada em filme, ajudou para que o longa registrasse o recorde de pré-venda dos ingressos. Além de incentivar a compra de entradas nos cultos, alguns espectadores no Boulevard Tatuapé contaram à reportagem do UOL que ganharam os ingressos para a estreia e outras que pagaram nas próprias sedes das igrejas por R$ 11 --na bilheteria dos cinemas, a entrada custa R$ 23 (inteira).
Emilly Maria, 16, foi uma das beneficiadas. Ela contou ter ganhado dois ingressos de um grupo de jovens da Igreja Universal e convidou a irmã, Evelyn Marina Nascimento, 23. Frequentadora da Assembleia de Deus no bairro do Itaquera, Evelyn levou os filhos Lucas, de 4 meses, e Kemilly, 3, que não pagam entrada. "Trouxe minha irmã porque estava doida para assistir. Não perdia um capítulo da novela."
Duas irmãs evangélicas, de 12 e 17 anos, não quiseram se identificar, mas contaram à reportagem que também ganharam os ingressos na igreja. Esta foi a segunda vez em que elas foram ao cinema --a outra foi para ver a animação "A Era do Gelo 2". "Assistimos à novela e disseram que o final seria diferente", contou a mais velha. "Eu viria com meu irmão, mas ele não pôde e eu estou procurando alguém para dar o tíquete", contou outro beneficiado, que também preferiu não se identificar.
Antônio Eduardo, 18, foi ao shopping Frei Caneca com dez amigos. "Vou voltar amanhã também, na sessão das 19h, com a minha namorada", disse ele, que é evangélico. Eduardo e os amigos compraram as entradas na noite de quarta-feira (27).
Já o casal Clodoaldo José Alves, 52, e Vanderli da Silva Alves, 46, evangélicos da igreja Avivamento de Fé, em Barueri, foram ao shopping Bourbon Pompeia, na zona oeste de São Paulo, acompanhados do casal Olavo José Alves, 44, e Simone Ramos, 41, e outros nove amigos --todos da Universal do bairro Brasilândia.
"Ganhamos os ingressos na nossa igreja e distribuímos para os amigos e parentes", contou Olavo. "É um filme muito bonito que merece ser visto por todos. Prefiro o filme, porque a novela, sempre que eu perdia um capítulo, era de uma cena emocionante". Visivelmente emocionada, Vanderli também disse que o filme teve uma "excelente dramatização e ótimos efeitos especiais. "Só não gostei do final, porque o faraó não morre", contou ela, sobre o mesmo final da novela.
Por meio de comunicado ao UOL, a Igreja Universal do Reino de Deus informou que "não adquiriu ingressos para o filme" e que "se não os comprou, não tem como vendê-los. Os casos citados podem retratar a distribuição de tíquetes adquiridos por particulares para essa finalidade, ou revenda entre indivíduos".
"Deus é um só"
Pela manhã, nenhuma fila faraônica foi vista nas bilheterias de ambos cinemas de São Paulo. Alguns fãs da novela que chegaram cedo ao shopping Tatuapé conseguiram comprar ingressos minutos antes da sessão das 11h45.
A católica Vera Rocha, 62, levou as duas filhas para assistir a "Os Dez Mandamentos". Ela contou que não se incomoda pelo filme ter ligação com a igreja Universal. "Deus é um só para todos", disse. Vera chegou cedo ao cinema e conseguiu comprar três ingressos na bilheteria também para a primeira sessão (11h45). "Eu me interessei, primeiramente, por ser um filme religioso. Hoje em dia a televisão não transmite muitas coisas religiosas e aprendi muito assistindo à novela."
A espírita kardecista Sandra Ayres, 54, também assistiu ao filme na primeira sessão do shopping Frei Caneca. "É uma história muito especial", disse. "Achei linda a novela e respeito todas as religiões. É um filme brasileiro e precisamos prestigiar. Esta é uma linguagem que só nos faz bem."
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