Quando o pior já parecia ter passado neste 65o Festival de Veneza, eis que surge, na noite do penúltimo dia da competição, o último concorrente italiano, "Il Seme della Discordia". Os filmes mais problemáticos desta seleção, como "Nuit de Chien", "Teza" e "Plastic City", não se comparam a esta obra-prima do mau gosto, cuja escolha para concorrer ao Leão de Ouro é completamente indefensável.
A noite já começou estranha, com o cancelamento da primeira sessão para imprensa, às 19h. A justificativa era a falta da cópia. A segunda exibição, às 22h30, aberta também à indústria, lotou a sala PalaLido. "Il Seme della Discordia" (A semente da discórdia), de Pappi Corsicato, poderia ter sido escrito pelos roteiristas do "Zorra Total".
A bela Veronica (Caterina Murino), empresária de sucesso, tem um péssimo casamento com Mario (Alessandro Gassman), que está sempre fora da cidade, a trabalho. Uma noite, ela é assaltada e encontrada desacordada pelo guarda Gabriele (Michele Venitucci). Depois de muito relutar, Veronica resolve engravidar, mas no mesmo dia em que recebe o teste positivo descobre que o marido é estéril.
"Trabalhar como Pappi é trabalhar com algo irreal, surreal", disse a atriz Isabella Ferrari, que interpreta uma amiga da protagonista. "No começo, não entendi o que ele queria", completou. Alessandro Gassman falou algo na mesma linha: "Foi difícil entender o que estava na cabeça deste diretor". Os atores que participaram da coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira 5 não tinham assistido ao filme ainda.
O diretor monta os planos com o único propósito de explorar os corpos das atrizes e trata suas personagens como objetos e seres estúpidos. O filme faz piadas de mau gosto com estupro, inclusive os estupros em massa na Guerra da Bósnia. "Este é o jeito de trabalhar dele, um jeito leve. Mas a vida não é leve. Particularmente, eu não gosto de aparecer nua nos filmes. Houve toda uma tentativa para não mostrar minha nudez, na cena do banho, por exemplo", tentou explicar a atriz Caterina Murino.