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22/05/2008 - 10h30

Ator cubano Jorge Perugorria avalia versão de Che Guevara de Soderbergh

GEISA AGRICIO

Da Redação
Assim como o êxito da própria Revolução Cubana não se deu apenas pelos méritos das suas lideranças, como Che Guevara e Fidel Castro - mas deve-se também à mobilização em massa e à força de anônimos -, o brilho de "Che", de Steven Soderbergh ("Traffic") passa pelo talento de muita gente, não só de suas estrelas maiores como Benício Del Toro, Demián Bichir ou Rodrigo Santoro.

Crédito
Em "Che", o ator cubano Jorge Perugorria vive o revolucionário Vitálio Acuña
FOTOS DE "CHE", DE SODERBERGH
SODERBERGH ADOTA TOM SOMBRIO
ENTREVISTA COM SANTORO
Uma voz política, maior que o papel que ocupa no díptico como Vitálio Acuña, Jorge Perugorria, astro cubano de "Morango e Chocolate", conversou com o UOL Cinema sobre o projeto norte-americano que leva às telas a representação de um dos maiores símbolos de seu país.

Em sua carreira, no cinema cubano ou estrangeiro, você sempre se mostrou um defensor do regime comunista de Cuba. Como você se sente fazendo parte do filme americano que conta a história de Che Guevara?
O cinema cubano é muito próximo, até mesmo em termos de intercâmbios, da produção européia. Soderbergh é americano, mas tem uma linha autoral que não é traçada pelos ditames da indústria de Hollywood, seus filmes são independentes e isso o aproxima dos cinema que a gente faz.

Como cubano e intelectual politicamente atuante, você acredita que o filme condiz com a percepção realista da história da Revolução?
Sem dúvida, fosse Soderbergh ou qualquer outro, como já aconteceu pelas mãos de Walter Salles em "Diários da Motocicleta", será sempre a visão de um artista, um corte criativo e autoral a respeito da história. E isso é um fato, não um desmerecimento. Mas posso dizer que o projeto foi realizado com tanto rigor e seriedade que me sinto feliz de fazer parte do filme. Del Toro passou mais de um ano se preparando para o papel, o diretor se debruçou e estudou com afinco documentos e arquivos para não se desviar da realidade. Vejo este como o projeto mais sério já feito sobre o tema.

O filme desvenda e humaniza "Che" ou ajuda a reafirmá-lo como mito pop de contravenção?
Creio que a maneira que o filme dispõe a história pode ajudar a que seja desenvolvida pelos jovens, principalmente pelos americanos, uma nova visão a respeito da história mais recente de Cuba, com respeito. Che é um símbolo de rebeldia e de luta e, claro, que há muita gente que veste uma camiseta com sua foto sem saber muito bem quem foi aquele cara. Mas se há uma necessidade que este ícone represente uma vontade de transformar as diferenças sociais, sejam os zapateros ou sem-terra do Brasil, creio que seja positivo que ele os inspire.

Projetos como esse, com parcerias e elencos multinacionais, representam neste momento político a possibilidade de um diálogo entre EUA e Cuba no cinema?
Acho que o momento de reabertura política desde o afastamento do Fidel ainda vai se desenrolar em muitos frutos, inclusive para o cinema, por que haverá entrada de mais capital, tecnologia. Coisas que vão depender também dos rumos democráticos e principalmente se os EUA vão por fim ao bloqueio comercial de tantas décadas. Mas a força da escola de cinema cubano não esteve fechada ou isolada como se pensa, sempre tivemos intercâmbios com outras produções, principalmente da Europa e da América Latina, e acompanhamos os movimentos artísticos e estéticos graças aos festivais.