Quem vê os filmes do dinamarquês Lars Von Trier imagina um sujeito grave e sisudo. Ao contrário, trata-se de um homem doce, que sorri bastante, fala baixo, faz piadas inteligentes a cada minuto e pensa muito antes de dar suas respostas.
Em entrevista para a divulgação de seu novo trabalho, o terror "Anticristo", Von Trier falou um pouco sobre a depressão que o paralisou durante dois anos, período no qual teve muita dificuldade em terminar o filme. A Califórnia, que distribui o filme no Brasil, prevê a estreia para agosto ou setembro.
"Você fica extremamente autocentrado, olha durante minutos para uma parede, pode chorar por mais de uma hora", disse ele. "É como voltar a ser criança. Mas, assim como uma febre obriga o corpo a parar um pouco, a depressão obriga a alma a se dar um descanso. Mas é uma fase que felizmente já superei".
O cineasta confessou que se projeta no personagem da mulher, vivida por Charlotte Gainsbourg, que enlouquece ao longo do filme - e não no marido (Willem Defoe). Disse ainda que foi "humilhante" não conseguir operar a câmera em seu filme pela primeira vez, por conta do stress e tremores nas mãos.
Como na entrevista coletiva que concedeu no festival, Von Trier evitou ser muito explicativo quanto às misteriosas imagens e acontecimentos de "Anticristo". "Eu tento não ter muita consciência do que estou criando. Não sou um professor, muito menos um filósofo, portanto não tenho essa obrigação de destrinchar as coisas. Agradeço muito a Charlotte e Willem por não terem conversado muito comigo, ou pedido explicações sobre seus personagens", comentou.
Outro comentário foi sobre a presença maligna da natureza em "Anticristo". "As pessoas que glorificam a natureza não vêem o quanto ela pode ser cruel. É o lugar onde se passam as coisas mais violentas, muita vida é perdida. Um carvalho, por exemplo, derrama muitas sementes no solo, e apenas pouquíssimas se desenvolvem. O resto é vida desperdiçada". Afirmou, porém, que sua relação com a natureza é bastante saudável e nunca passou por traumas. "Sou o tipo de cara que tira a lesma da pedra para ela não morrer".
O diretor de "Dançando no Escuro" disse que não tem um próximo filme definido, e revelou que seu projeto sobre a Trilogia dos EUA - que já teve dois filmes, "Dogville" e "Manderlay" - está na geladeira. "Vou esperar que as ideias para esse terceiro filme venham até mim naturalmente, como a raposa que surge no bosque em 'Anticristo'".