Para um festival sintonizado com a conjuntura e a política, a 59ª edição de Berlim começou bem. "Trama Internacional", do diretor alemão Tom Tykwer, traz Clive Owen no papel de um agente da Interpol determinado a fazer justiça e revelar ao mundo os responsáveis pelo assassinato de seu parceiro. Obcecado com a ideia e movido pelo sentido moral, o agente Selinger segue pistas, levanta provas, mas suas iniciativas sempre acabam no vazio.
O filme lembra - e cita sem rodeios - clássicos como "Intriga Internacional", de Alfred Hitchcock, e outras variações recentes desse mesmo tema: o homem comum lutando contra o inimigo invisível, o sistema. A estréia brasileira está prevista para 20 de março.
Porque o filme aponta como grande vilão da história um banco internacional que financia Estados beligerantes, organizações terroristas, serviços secretos e até organizações criminosas, era de se esperar que Tykwer fosse recebido como um vidente, uma espécie de profeta da crise financeira tão alardeada pelos governos, bancos e até mesmo pelos grandes grupos de comunicação. O cineasta, que estava de muito bom humor na entrevista coletiva de hoje de manhã, ao lado de Owen e de dois dos produtores do filme, tratou de esclarecer que não se trata nem de uma previsão, muito menos de coincidência.
Trailer do filme "Trama Internacional" "Gaza me interessa mais que a crise", diz presidente do júri Tilda Swinton Cinéfilos viram a noite na fila para comprar entradas "Central do Brasil" foi destaque em 1998; reveja a participação brasileira em Berlim "Tropa de Elite" ganhou o Urso de Ouro em 2008; veja lista dos dez últimos vencedores"Começamos a trabalhar há seis meses na produção", disse ele. "O roteirista [Eric Singer] estava trabalhando havia oito anos nessa história. Trata-se de um thriller de ação em que um banco representa o vilão. Burilamos a trama um pouco para torná-la mais interessante e exótica, mas não havia como prever essa crise financeira que se abate sobre nós."
Tykwer continua sua explicação dizendo que "Trama Internacional" não fala dos bancos como uma categoria maléfica. "Estamos falando de alguns bancos que são tão monstruosos quanto esses que retratamos", disse ele. "Estamos falando sobre o sistema, o mesmo que criou essa crise na qual estamos mergulhados. E não podemos esquecer que esse sistema tem mais de cem anos."
Mais adiante, o cineasta, que está presente no festival também no filme de antologia ""Deutschland '09 - 13 Kurze Filme zur Lage der Nation Germany", diz que "Trama Internacional" fala sobre o princípio da vida em sociedade. "Temos que mudar o a idéia de que a troca de mercadorias e o lucro está acima de tudo isso." E conclui: "O fato de termos uma crise dessa natureza é reflexo do que mostramos no filme.".