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"Nossa geração não sabe o que é morrer por uma causa", diz Wagner Moura

17.fev.2014 - Wagner Moura participa de reunião na produtora O2 com o cineasta Fernando Meirelles (esq.), as produtoras Andrea Barata Ribeiro (esq.) e Bel Berlinck (dir.) e o roteirista Felipe Braga. O tema da reunião foi o longa metragem "Marighella", estreia de Moura na direção, que será produzido pela O2 neste ano - Reprodução/O2
17.fev.2014 - Wagner Moura participa de reunião na produtora O2 com o cineasta Fernando Meirelles (esq.), as produtoras Andrea Barata Ribeiro (esq.) e Bel Berlinck (dir.) e o roteirista Felipe Braga. O tema da reunião foi o longa metragem "Marighella", estreia de Moura na direção, que será produzido pela O2 neste ano Imagem: Reprodução/O2

Estefani Medeiros

Do UOL, em Berlim (Alemanha)

17/02/2014 18h01

De volta ao Festival de Berlim para divulgar "Praia do Futuro", longa de Karim Aïnouz que estreará no Brasil em 1º de maio, Wagner Moura planeja um ano cheio com as filmagens da biografia do palhaço Bozo e um novo projeto com José Padilha, diretor que o levou para a Berlinale pela primeira vez com "Tropa de Elite", em 2008. Mas o assunto que faz os olhos do ator baiano brilharem é a sua estreia na direção com a biografia do guerrilheiro Carlos Marighella, que tem o início das filmagens programado para começar em 2015.

"Esse filme é meu grande projeto, acordo e durmo pensando nisso, estou completamente apaixonado e enlouquecido com ele. Compramos os direitos do livro do Mario Magalhães e temos o apoio da família Marighella. Quero revelar para o Brasil um sujeito que eu tenho muita admiração e que é um herói esquecido", explica o ator em entrevista ao UOL.

Para Moura, este é um bom momento para relembrar a história do personagem político. "O Brasil tem isso, por uma questão da memória ou por culpa da direita ser muito forte no país, não mostrar pessoas que lutaram, que deram suas vidas pela liberdade, pela democracia. Politicamente, para mim, é muito importante falar sobre esse cara. E, ao mesmo tempo, ele é um cara magnético, interessante, forte", conta Moura.

"Estou me cercando de pessoas da minha geração para fazer esse filme, como o [diretor de fotografia] Lula Carvalho, o [montador] Daniel Rezende. Acho legal ter o nosso olhar sobre aquela época para essa galera, que meio que não sabe o que é dedicar uma vida, morrer por uma ideia, por uma causa. A gente não sabe o que é isso. A nossa geração não sabe o que é morrer por uma causa", afirma em tom de provocação.

Antes de rodar o longa, Moura tem se concentrado em se preparar para o filme com Padilha e reunir experiências como produtor nos trabalhos que atua, para adquirir mais macetes administrativos para sua própria produção. "Esse do Padilha ainda não tem data nem título, mas o filme vai acontecer na tríplice fronteira, entre Brasil, Paraguai e Argentina. E depois disso vou rodar o primeiro longa do Daniel Rezende, a estreia dele na direção um filme sobre o palhaço Bozo."

"Praia do Futuro"

Moura conversou com o UOL sobre "Praia do Futuro" logo após a sua exibição no festival de cinema alemão. Na sessão, detalhes da trama mantidos em segredo foram exibidos pela primeira vez, como as cenas quentes de sexo gay envolvendo o casal protagonista, o que o Moura afirma que "não deve ser o principal ponto de discussão sobre o filme".

"Eu acho que a responsabilidade da gente e da imprensa é levar esse assunto com mais naturalidade", diz. "Porque a gente ajuda quando não faz disso uma questão. E isso é uma coisa muito minha, não é algo do tipo: 'estamos fazendo um filme que impõe a homossexualidade'. Acho que a nossa postura deveria ser: tem dois caras e eles têm uma relação, um cara se apaixona pelo outro cara e eles têm essa relação. Me parece politicamente mais eficaz do que virar uma história do beijo gay da novela."

Em "Praia do Futuro", de Karim Aïnouz, o salva-vidas Donato (Wagner) perde a primeira vítima por afogamento. O acaso e a crise na vida e na profissão o aproximam do motoqueiro Konrad (Clemens Schick), o que inicia um processo de descoberta, amor e uma mudança para Berlim. Deixando para trás o irmão Ayrton (Jesuíta Barbosa), que o tinha como herói, Donato foge em busca de sua própria identidade.

Moura reforça que a questão central do filme é a busca por uma identidade, e não o homossexualidade dos personagens. "Não só dramaticamente, mas politicamente essa não é questão em 'Praia'. Poderia ser um filme sobre uma história de amor de dois caras, mas essa não é uma questão do filme. Esse é um filme sobre identidade, sobre você. Uma coisa que me fascina é você ser o que você quer ser. O cara tem coragem pra fazer isso, mas faz do jeito errado, abandona aquele menino que tinha ele como pai, não consegue lidar com seu passado".

Para ele, a parte mais desafiadora do longa foi representar uma figura paterna para os dois atores que interpretaram Ayrton. "Foi duríssimo criar essa parte. O Jesuíta é um doce, o menino pequeno também. Os dois me tinham como referência paterna durante as gravações, ficamos muito tempo juntos. Tenho três filhos homens, isso sim talvez tenha sido a maior questão para mim, a questão do abandono, a volta depois quando ele está mais velho, irado, cobrando".

"Praia do Futuro" tem estreia prevista para 1º de maio.