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Debate sobre gênero tira foco e marca remake de "Caça-Fantasmas"

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Boston (EUA)

13/07/2016 06h00

Os ataques de sexismo que a nova versão de "Caça-Fantasmas" sofreu por ter quatro mulheres nos papéis principais são, nos bastidores da produção, um assunto a se manter longe do foco da imprensa. "Este não é um filme só para mulheres. É um filme para todos os públicos", foi o mantra repetido por atrizes, produtora e equipe em geral a jornalistas do mundo todo.

O filme, que chega nesta quinta-feira (14) aos cinemas brasileiros, é estrelado por Melissa McCarty, Kristen Wiig, Leslie Jones, Kate McKinnon. Para seguir a lógica da inversão de gêneros, Chris Hemsworth aparece no papel de um secretário sexy. 

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A comediante Melissa McCarthy disse desconhecer as críticas dos fãs dos filmes originais à decisão do estúdio de escolher mulheres como protagonistas. "Acho que as pessoas vão sempre criticar algo que não viram, mas o que eu faço é não dar atenção a esse tipo de coisa. Se eles forem assistir, verão que é uma história super legal", disse ela ao UOL.

Leslie Jones se mostrou mais incomodada com a polêmica. Ao ser questionada sobre como o fato de as personagens serem mulheres mudava a dinâmica da história, rebateu: "Você quer saber se a gente usa bolsa e coloca maquiagem durante o filme? Porque, sério, eu odeio esse lance todo. Vai ser um filme incrível e não importa se as personagens são mulheres, homens ou crianças. Por que todo mundo fica falando disso?".

Talvez a pessoa mais habilitada a comentar sobre o assunto, o diretor do filme, Paul Feig, desabafou contando que tem “recebido tuítes inacreditáveis sobre o filme no último ano, de gente que pensa que vai ser uma comédia romântica em que as mulheres choram cada vez que quebram as unhas”.

A intervenção mais inusitada, no entanto, foi da produtora Amy Pascal. Demonstrando preocupação de que o filme pudesse ser considerado “de mulherzinha”, a executiva deu sua visão sobre os questionamentos. “Eu estou vendo que vocês estão tocando muito nesta questão de o filme ter mulheres como protagonistas, mas eu gostaria de dizer algo sobre isto. Este não é um filme só para mulheres, é um filme para todos os públicos. Ele conta a história de quatro cientistas que acreditam em algo que ninguém acredita e que lutam para provar que estão falando a verdade e mostrar seu valor”, disse Pascal.

Para quem não se lembra, Pascal era a vice-presidente da Sony Pictures durante um dos maiores escândalos de vazamentos de informações confidenciais, em 2014, quando hackers invadiram a intranet do estúdio e revelaram desde salários dos atores a intrigas de bastidores, com e-mails em que ela ironizava artistas da casa, como Angelia Jolie. 

Devagar com a diversidade

De fato, em um mundo ideal, sem sexismo, a presença de quatro mulheres nos papéis principais não deveria ser uma questão a ser levantada. Acontece que ainda há muita resistência de uma parcela do público masculino no tocante à diversidade em refilmagens e adaptações para o cinema.

“Mad Max: Estrada da Fúria”, por exemplo, chegou a sofrer uma campanha de boicote por parte de um grupo de homens que não admitiam o fato de Max receber ordens da Furiosa, ou pela personagem de Charlize Theron ter tanto destaque no longa quanto o protagonista Tom Hardy.

Outro filme que sofreu críticas de fãs foi a nova versão de “O Quarteto Fantástico”, que colocou Michael B. Jordan, um ator negro, no papel do Tocha Humana. O personagem, tanto nos quadrinhos quanto na primeira adaptação, é branco.

E a polêmica se estende também para outra franquia: "007". Recentemente Pierce Brosnan, que interpretou o agente em quatro filmes, deixou os homofóbicos e racistas de cabelo em pé ao dizer que James Bond poderia muito bem ser interpretado por um ator negro ou, ainda, ser um personagem homossexual.

Sobre “As Caça-Fantasmas”, vale ressaltar que tanto na história quanto nos bastidores do filme o discurso de igualdade que a produtora prega não se aplica totalmente.

Leslie Jones, por exemplo, é a única protagonista não branca. E sua personagem também é a única da equipe que não é cientista, mas uma funcionária do metrô de Nova York que possui conhecimentos autodidatas. Ou seja, é uma personagem que reforça a ideia de que negros têm sempre profissões menos, digamos, elaboradas.

Além disso, quem recebeu tratamento de estrela nos bastidores foi Chris Hemsworth. Mesmo sendo um coadjuvante, o ator foi o único que deu entrevistas individuais, enquanto as protagonistas mulheres, ou seja, as donas da história, falaram apenas em grupo.

Será que Bill Murray e Dan Aykroid, as estrelas dos primeiros filmes que fazem pontas na nova história, receberiam o mesmo tratamento?

97 Comentários

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Kalashnikov

O pessoal se preocupa tanto com se têm mulher, homem.... que se esquecem do próprio filme. Fui na pré-estreia e o filme é muito bom, efeitos incríveis e história bem legal. Os atores são ótimos, humor moderno na medida certa. Ótimo filme para a família e fans, como deve ser este gênero. Na boa, se não gostou faça melhor! Tenta a sorte.

pedro83

Não vou negar que existam críticas machistas a esse filme, idiotas têm em todo lugar. Mas o dito machismo não pode servir de desculpa se o filme não der certo. Todos os anos, Hollywood amarga algum fracasso de verão americano para chamar de seu, e esse remake dos Caça Fantasmas tem a maior pinta que será o caso. Aliás, bola cantada desde que saiu o trailer um tanto desestimulador. Talvez ninguém esteja muito interessado em ver um remake dos Ghostbusters com atores novos (mulheres ou não), talvez Ghostbusters seja classicamente muito "anos 80" na nossa memória para ser "tocado" de novo. Pode não ser um filme ruim, mas pode ser o filme que as pessoas "pulem" para esperar o próximo lançamento.

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