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Ficha completa do filme

Drama, Baseado em fatos reais

Entre os Muros da Escola (2008)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 22/06/2009
Nota: 4

Vencedor da Palma de ouro de Cannes em 2008, indicado ao Oscar de filme estrangeiro (perdeu para o excelente japonês "A Partida"), este filme francês vai contra a tradição local, que normalmente evita discutir problemas sociais deles mesmos, se refugiando em textos mais sofisticados e literários.

O diretor Cantet é conhecido por "A Agenda", com Daniel Auteil (um bom drama sobre um executivo que perde o emprego e esconde da família) e o mais fraco "Em Direção ao Sul" (sobre mulheres que viajam para o Caribe em busca de homens mais novos).

Mas acertou em um filme duro, sério, polêmico, atual e que
tem uma enorme qualidade diante da concorrência: não tem finais felizes, não dá uma solução, até porque o problema é tão sério que não comportaria uma resolução à moda do cinema americano.

Na verdade, filmes sobre escolas e professores abnegados compõe quase um gênero por si só, desde que foi feito "Sementes de Violência" (Blackboard Jungle, 1955), de Richard Brooks, incluindo muitos títulos e variantes ("Ao Mestre, com Carinho", "Subindo Por Onde se Desce", "Mentes Perigosas" etc.). Sempre com um professor idealista lutando para ensinar seus alunos rebeldes, o que a duras penas consegue ao final.

Na França, a situação ainda é mais complicada porque o ensino é mais rígido e tradicional. E, além disso, hoje eles e - a Europa em geral - estão pagando o preço por terem sido colonialistas (a França teve o segundo maior império colonial, só perdendo para a Inglaterra). Depois de terem explorado tanto no Caribe, no Norte da África e em alguns lugares onde ainda têm domínio, chegou a "vingança".

Agora os emigrantes chegam à França sem instrução, em busca de trabalho num país onde o desemprego é muito grande. Acabam vivendo em bairros pobres da periferia das cidades maiores, se não em favelas, em prédios de apartamentos populares. Nesses lugares, é fácil chegar a delinquência. Tudo isso torna mais interessante a experiência de Cantet, que se inspirou num livro autobiográfico do professor François Bégaudeau contando sua experiência como professor de uma escola nesses moldes, com alunos pobres e sem futuro.

Resolveu chamar o próprio Bégaudeau para repetir sua figura de professor, o que este faz com muita naturalidade. Aliás, todo o elenco amador sai-se muito bem, mesmo esse naturalismo não sendo uma tradição francesa. Não são os alunos de verdade, mas pessoas selecionadas para o filme. Mas tudo tem cara de verdade, e nos dá a sensação de que já vimos isso antes, não num filme, mas na nossa esquina, nas experiências em escolas e professores contemporâneos.

Ou seja, é espantosamente perto de nós, ate de forma incômoda. Sem dúvida, o filme comporta ainda muitas discussões e todos os professores e administradores têm obrigação de assistir ao filme e aproveitar suas lições. Não é aborrecido, é vivo, forte, contundente e perturbador, adjetivos raramente usados para filmes franceses.

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