Numa análise da lista dos dez filmes mais vistos no ano no Brasil, a Folha Online constatou o que se desenhava desde o início do ano: os filmes de herói, ação e aventura se tornaram tendência entre o público local. Para além do fato de "Batman - O Cavaleiro das Trevas" estar em primeiro na lista, com arrecadação de R$ 37 milhões (4 milhões de ingressos vendidos), o filme de Christopher Nolan trouxe uma nova abordagem para heróis sombrios, muito menos rasteira e mais sofisticada. Fazem parte dessa tendência, outros filmes grandes, como "Homem de Ferro" e "Eu Sou a Lenda". E até os pequenos, como o ótimo "Persépolis".
Depois de "Batman Begins", Christopher Nolan retoma o Homem-Morcego em parceria com Christian Bale em "Batman - O Cavaleiro das Trevas". E nessa segunda investida conquistou o grau de excelência que os fãs almejavam, com a ajuda de um Heath Ledger em estado de graça na pele do Coringa. Há quem tenha visto na oposição entre o herói e seu arquiinimigo uma simplificação maniqueísta e tacanha do que vivemos hoje em dia. Talvez tenham que rever com mais atenção, já que o filme esconde mais sofisticação do que aparenta. O "Por que tão sério?" entoado como um mantra pelo Coringa de Ledger diante de um Batman enraivecido resume o sarcasmo de um vilão para o qual não há ética possível - nem a dos bandidos.
Quando Robert Downey Jr. foi anunciado para o papel de Tony Stark, o gênio fabricante de armas e alter-ego do Homem de Ferro no filme sobre a origem do super-herói, muitos fãs de histórias em quadrinhos e cronistas de Hollywood ficaram surpresos com as semelhanças entre a história pregressa do ator e o perfil do personagem. A verdade é que Downey Jr., depois de tantos problemas com drogas e bebidas, parece ter renascido plenamente para as câmeras. E o seu Tony Stark é uma prova disso. Jon Favreau, por sua vez, se mostrou um diretor competente não apenas para dirigir seus próprios roteiros. No sistema industrial de Hollywood isso não é pouco.
Inspirada na graphic novel de mesmo nome da iraniana Marjane Satrapi, "Persépolis" transporta para o cinema no formato de animação a autobiografia da autora. Aos 8 anos de idade, ela sonha em ser uma profetisa do futuro para salvar o mundo. Nascida em uma família de valores modernos e avançados, muito mimada pela avó, ela acompanha o que acontece a sua volta com atenção redobrada e questiona tudo. A queda do Xá e a entrada da nova República Islâmica inaugura um período de muitas restrições e controle por parte do que se convencionou chamar de Guardiões da Revolução. Obrigada a usar véu, ela quer se tornar revolucionária. Satrapi, que assina a animação ao lado do francês Vincent Parounnaud, não recorre a pirotecnias técnicas. Mantém tudo muito simples, como no original. E, assim, consegue transcender sua própria obra.