UOL Entretenimento Cinema
 
06/09/2010 - 13h09

Sofia Coppola afirma sua personalidade profissional dentro do clã com "Somewhere"

NEUSA BARBOSA
Do Cineweb, em Veneza
  • Sofia Coppola chega ao Festival de Veneza, na Itália, do qual participa com o filme ''Somewhere'' (3/09/2010)

    Sofia Coppola chega ao Festival de Veneza, na Itália, do qual participa com o filme ''Somewhere'' (3/09/2010)

A maior parte do que a cineasta norte-americana Sofia Coppola tem a dizer deve ser procurada em seus filmes – como os celebrados “As Virgens Suicidas”, “Encontros e Desencontros”, “Maria Antonieta”(com o qual competiu pela Palma de Ouro em Cannes, há quatro anos) e seu novíssimo filme, “Somewhere”, um dos mais elogiados na disputa do Leão de Ouro em Veneza este ano.

Em suas entrevistas, como a que concedeu na tarde de ontem ao UOL Cinema, Sofia é reservada. Parece participar destas rodadas de entrevistas por pura obrigação profissional. Ela é sempre séria, centrada e nunca parece vaidosa do próprio trabalho. Apenas tímida, muito tímida.

A filha do todo-poderoso chefão Francis Ford Coppola, diretor de clássicos do cinema americano como “Apocalypse Now”, porém, é hoje uma cineasta que, aos 39 anos, não vive mesmo à sombra do pai. Ela tem, aliás, um estilo totalmente diferente do dele. Entre os dois, como ela faz questão de ressaltar, há uma admiração mútua. “Gosto muito do trabalho dele e ele do meu. Este filme, aliás, ele disse que só eu podia ter feito. Porque é muito pessoal”.

O enredo de “Somewhere”, que retrata a relação entre um pai ator (Stephen Dorff) e uma filha (Ella Fanning), aliás, tem fundo autobiográfico, ao inspirar-se nas viagens que Sofia, ainda criança, fez com Francis Coppola. “A família toda viajava com ele quando estava filmando em algum lugar. Eu tinha mais ou menos a idade de Cléo (personagem de Ella). Fomos a muitos lugares assim. É excitante para uma criança, você ser uma garota nesse mundo de adultos. E engraçado também”, lembrou.

Ser diretora de cinema, porém, levou mais tempo. Sofia recorda que, por volta dos 20 anos, ao entrar para uma escola de arte, ainda não tinha essa vocação definida. Mas acha que isso foi natural. “Desde que éramos crianças, sempre havia uma câmera por perto. Acho que é mais ou menos contagioso, então, pensar nisso (ser cineasta) quando se cresce nesse ambiente”.

Maternidade

Companheira do vocalista Thomas Mars, da banda Phoenix, e dividindo seu endereço entre Paris e Nova York no momento, a diretora também impregnou muito a história de ”Somewhere” com sua própria experiência de tornar-se mãe – ela tem duas filhas com o cantor, uma nascida em 2006, outra, há poucos meses.

Foi justamente depois do nascimento da primeira filha, Romy, quando tirou tempo livre para ficar com ela, que a ideia original deste filme começou a tomar forma. “Veio à minha cabeça como isso de tornar-se mãe muda sua perspectiva. Pensei também em como seria para meu namorado ter uma filha, ele sendo um homem”.

Outro toque pessoal incluído na história foi o cenário onde Sofia cresceu, a cidade de Los Angeles, onde se passa a maior parte da ação. Há locações também na Itália, onde estão, aliás, as raízes da família Coppola.

No caso de Los Angeles, a diretora conta que foi até a própria distância dos EUA que parece tê-la influenciado. “Eu estava morando em Paris e pensava em Los Angeles, portanto, com uma certa distância, Talvez sentisse também com uma certa saudade da América. Me vieram à cabeça, então, filmes ícones da cidade – como ‘American Gigolo’ e ‘Lua de Papel’. Eu pensava em como a cidade mudou desde que morei lá, quando tinha meus 20 anos. Já havia então um culto à celebridade. Mas não havia reality shows”.

Um dos cenários mais emblemáticos da própria imagem cinematográfica de Los Angeles escolhido por Sofia para o filme foi o célebre hotel Chateau Marmond. Ela conta porque o escolheu como a moradia de seu protagonista: “Há muita história e romance neste lugar. É um local boêmio, não muito sofisticado e muitos atores moram lá”.

Sobre a escolha, para alguns, surpreendente, do ator Stephen Dorff (de “Blade”) como protagonista, a cineasta conta que “o conhecia há bastante tempo. Há muito tempo não o via, mas lembrei-me dele. Sempre o achei um grande ator e um cara muito doce. Então, pensei que este personagem, Johnny Marco, era realmente cheio de falhas e desagradável e que Stephen poderia levar as pessoas a sentir ternura por ele”.

Sobre as inspirações da vida real para compor o personagem Johnny Marco – que é um ator bêbado, mulherengo e meio relapso como pai, a princípio -, Sofia é, mais uma vez, discreta. Mas admite que ele “é baseado em várias pessoas que conheci e histórias que ouvi”.

Indagada sobre o tema da solidão, que se repete na composição dos personagens deste filme, tanto quanto em todos os anteriores, Sofia explica: “Para mim, os personagens são interessantes nesse momento em que estão numa crise, num momento de transição, de conflito interior. Mas isso não significa que são solitários todo o tempo”.

 

Veja também

Carregando...

Siga UOL Cinema

Sites e Revistas

Arquivo

Hospedagem: UOL Host