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"Aquarius" é um filme político, mas não no sentido clássico, afirma diretor

De Cannes

17/05/2016 18h49

Em "Aquarius", apresentado em competição em Cannes nesta terça-feira (17), o brasileiro Kleber Mendonça Filho se questiona sobre os excessos do capitalismo no Brasil pelo retrato de uma mulher livre, com opiniões próprias e rebelde, vivida pela atriz Sônia Braga.

O filme acompanha o destino da sessentona Clara, uma crítica de música aposentada. Viúva e mãe de três filhos, ela vive em Recife, em um prédio dos anos 1940, o "Aquarius", cercada de suas lembranças e de seus velhos discos de vinil.

Mesmo depois de uma construtora comprar todos os apartamentos do edifício, ela ainda se recusa, obstinadamente, a vender o seu. Entra em uma guerra com a empresa, que busca fazê-la ceder de todas as maneiras.

"É um filme político, mas não no sentido clássico, porque ele fala de coisas em uma escala muito pequena"
Kleber Mendonça Filho


"O filme fala do fato de viver sua vida como se quer, sem seguir as ordens daqueles que têm interesses comerciais", declarou Filho, de 47 anos, em entrevista à AFP.

Esse é seu segundo longa desde "O Som Ao Redor", de 2012.

"Clara é uma mulher forte, que vive sua vida e deve enfrentar a pressão de pessoas que têm seus projetos", acrescentou.

"Ela está no caminho delas, mas tem uma personalidade forte e um forte senso da história e do patrimônio", completou.

No filme, a personagem-título, que se define como "uma velha dama e uma criança, às vezes os dois", busca preservar seu estilo de vida.

"A situação, na qual ela se encontra, a pressão, a luta, as imposições de 'não fazer isso', eu vi muito isso, no Brasil e na minha vida. É uma mistura das nossas duas personalidades", disse Sônia, de 65 anos, à AFP.

Com esse retrato, construído em três etapas, Kleber Mendonça Filho se questiona, indiretamente, sobre os desvios do capitalismo no Brasil contemporâneo.

"Seu papel no filme é muito político, mas não acho que ela discuta política abertamente no filme", analisou o diretor.

"É um filme político, mas não no sentido clássico, porque ele fala de coisas em uma escala muito pequena", acrescentou.

Recepção em Cannes

A sessão de gala de "Aquarius", filme brasileiro que concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016, foi marcada nesta terça-feira (17) por protestos contra o governo interino de Michel Temer, ainda no tapete vermelho.

A exibição agradou os presentes no Palácio dos Festivais, que aplaudiram o filme por sete minutos. Elenco e o diretor Kléber Mendonça Filho deixaram o local emocionados. 

Mais cedo, o filme de Kleber Mendonça Filho também já havia sido bastante aplaudido na exibição para jornalistas. 

O filme também foi muito elogiado pela critica internacional. O jornal inglês "The Guardian" ressalta que, de certa forma, o filme pode ser visto como uma metáfora do Brasil, "com nepotismo, corrupção e cinismo em seus mais altos escalões".

"Aquarius" é aplaudido após exibição em Cannes

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