"Parkland" deixa de lado conspirações e trata morte de JFK com realismo
A ausência do ídolo teen Zac Efron – destaque do elenco do quarto concorrente norte-americano ao Leão de Ouro, "Parkland", de Peter Landesman, na pele de um médico residente – foi uma decepção na manhã deste domingo (1º) no Festival de Veneza. Fora isso, o filme, muito aplaudido nas sessões matinais de imprensa, rendeu a polêmica esperada, ao ressuscitar em detalhes impressionantes o dramático final de semana do assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy, que completa exatos 50 anos no próximo dia 22 de novembro.
Deixando de lado as teorias da conspiração que cercaram o crime – centro do drama “JFK”, de Oliver Stone, e inspirando-se num livro de Vincent Bugliosi (“Reclaiming History: The Assassination of John Fitzgerald Kennedy”) –, Landesman focou na “emoção crua daquele final de semana”, segundo suas próprias palavras. Sobre as teorias de conspiração em torno da morte, afirmou que “há poucas provas em qualquer direção” e que não era esse seu interesse.
Repórter experiente na cobertura de diversas guerras e famoso por uma reportagem sobre escravas sexuais no jornal “The New York Times” que inspirou o filme “Trade”, de Marco Kreuzpaintner, Landesman disse ter procurado retratar “as pessoas que estavam no centro dos acontecimentos, colocando-nos no lugar delas”. E completou: “Procuramos contar uma história real, que sabemos ser verdadeira. Sabemos que tudo aquilo aconteceu àquelas pessoas e arruinou suas vidas”.
Destruição de provas
Esses personagens no centro de “Parkland”, mais do que os famosos, são as pessoas comuns, médicos, enfermeiros, agentes secretos, policiais, um padre e outros que viram de perto ou estiveram envolvidos no atendimento e transporte do presidente após ser baleado em Dallas, Texas, e ser levado ao hospital de Parkland, que dá nome ao filme.
Usando sua experiência como jornalista, Landesman entrevistou alguns dos personagens fundamentais, como o agente do FBI James Hosty (John Livingston), que destruiu o arquivo referente a Lee Harvey Oswald, o alegado assassino de Kennedy (que também foi morto pouco depois). A participação de Hosty nesse episódio polêmico não é muito conhecida, apesar de tanto ter sido noticiado e discutido a respeito da morte de Kennedy nas últimas cinco décadas. Mas o diretor do filme garante que “nada estava escondido, Hosty não era uma pessoa cuja existência fosse desconhecida. Esteve sempre ali. Tive a sorte de estar com ele quatro dias antes de sua morte e ele parecia aliviado de estar finalmente falando sobre isso (a destruição do arquivo sobre Oswald no FBI)”. Hosty morreu em 2011.
Um personagem menos conhecido é o irmão de Lee Oswald, Robert Oswald (interpretado por James Badge Dale). “Quem diabos sabia que ele tinha um irmão? E, para ele, aquele final de semana foi terrível. Ele acordou achando que seria um dia normal e, de repente, descobriu que seu irmão era o demônio. Sua missão naqueles dias foi de entender o que estava acontecendo até, finalmente, ter que sepultar o irmão”, disse o diretor.
Simpatia pelo assassino
Indagado se não teria demonstrado uma certa “simpatia” pelo assassino de Kennedy em seu retrato no filme, o diretor negou: “Eu não diria simpatia, porque isso já é um tipo de defesa. Prefiro o termo ‘humanidade’. Tudo que estou tentando é reconhecer sua humanidade, seja patológica ou não. Em meu filme, não temos tempo para qualquer julgamento. Não alego que haja qualquer verdade escondida. Estamos apenas tentando atravessar aqueles dias”.
Indagado sobre detalhes como a impressionante quantidade de sangue que se vê nas roupas de médicos e enfermeiras e também nas dos agentes que conduziram o presidente, Landesman comentou que foi bastante fiel à realidade: “Nosso objetivo era mostrar uma verdade visceral e não apenas física. Feridas na cabeça (Kennedy foi baleado na cabeça) sangram muito e ele recebeu duas transfusões. Havia mesmo muito sangue nas roupas de todos. Também achei que havia algo shakespeariano nisto”.
Outro elemento realista é o uso em “Parkland” de trechos do famoso filme super-8 do assassinato feito pelo comerciante Abraham Zapruder (Paul Giamatti). “Este é um filme muito visto, muito conhecido, mas eu queria usá-lo como cineasta, mostrá-lo como ele (Zapruder) e outros o viram pela primeira vez. Tivemos a sorte de conseguir a confiança da família dele, que tem sido muito reservada, e eles confiarem em nós”, disse Landesman. A família de Zapruder, inclusive, veio ao set acompanhar as filmagens.
Para o diretor, “ainda há muito a ser descoberto sobre todas essas pessoas”. Ele cita que há materiais, como as gravações da conversas entre os irmãos Oswald, quando ele estava na cadeia e os depoimentos de todos os agentes, que não têm recebido atenção.
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