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Mulher de Coutinho apresenta melhora e deve deixar CTI nesta quarta-feira

Do UOL, em São Paulo

05/02/2014 12h38

O quadro clínico de Maria das Dores Coutinho, de 62 anos, mulher do cineasta Eduardo Coutinho, apresentou "melhora evolutiva significativa", segundo boletim médico divulgado na tarde desta quarta-feira (5) pelo Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro. De acordo com o comunicado, a viúva deve sair do CTI e ser transferida para o quarto ainda hoje.

De acordo com a polícia, Coutinho foi esfaqueado pelo filho no apartamento em que moravam na Lagoa, zona sul do Rio. No ataque, Maria das Dores levou duas facadas no peito e três no abdome, sendo que uma perfurou o fígado. Ela conseguiu se trancar no banheiro e ligar para pedir ajuda.

A mulher do cineasta foi transferida do Hospital Municipal Miguel Couto na noite de segunda-feira para Hospital Adventista Silvestre. Antes da transferência, ela já não precisava de aparelhos para respirar, mas seu estado ainda inspirava cuidados dos médicos.

Entenda o caso
Eduardo Coutinho, 80, morreu em seu apartamento, na Lagoa, zona sul do Rio, na manhã de domingo (2). Daniel Coutinho, filho do cineasta, é apontado como responsável pelo crime. Ele foi internado no Hospital Miguel Couto com duas facadas em seu próprio abdome. A mulher de Coutinho, Maria Oliveira Coutinho, também foi ferida e está internada.

Daniel, de 41 anos, morava com os pais e foi preso em flagrante delito. Ele será indiciado por homicídio doloso, mas um juiz decidirá quais medidas serão tomadas judicialmente, já que existe a suspeita de um quadro de esquizofrenia.

Segundo o delegado, o crime aconteceu por volta das 11h de domingo. O corpo de Coutinho foi encontrado na porta de um dos quartos do apartamento. A esposa do cineasta, que também foi ferida, teria tentado se esconder no banheiro e ligar para outro filho para pedir ajuda. Após cometer os crimes, Daniel também tentou se matar.

O delegado disse que Daniel usou duas facas de cozinha nos ataques e, logo após agredir os pais, bateu na porta de um de seus vizinhos e disse: "Eu libertei meu pai, tentei libertar a minha mãe e tentei me libertar". Os bombeiros foram chamados pelo porteiro do prédio e, quando chegaram, Daniel abriu a porta do apartamento, sem demonstrar resistência à entrada deles.

Coutinho recebeu as últimas homenagens de amigos e admiradores no cemitério São João Batista, no Rio, antes de ser enterrado no mesmo local. Passaram pelo velório do documentarista personalidades da cultura como o produtor Luiz Carlos Barreto, o documentarista e jornalista João Moreira Salles, o ator Lázaro Ramos, a cantora Adriana Calcanhoto, o ator Paulo José, a atriz Camila Morgado, o diretor de fotografia Walter Carvalho e o poeta Ferreira Gullar, além de personagens retratados em seus documentários "Edifício Master" e "Babilônia 2000".

Trajetória
Nascido em 11 de maio de 1933, em São Paulo, Eduardo Coutinho abandonou o curso de direito por uma carreira no entretenimento. Depois de estudar direção e montagem na França e voltar ao Brasil em 1960, Coutinho entrou em contato com o Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE.

No CPC, o cineasta começou a trabalhar no que seria considerado seu projeto mais importante: uma ficção baseada no assassinato do líder das Ligas Camponesas, João Pedro Teixeira, com elenco formado pelos próprios camponeses do Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. A produção de “Cabra Marcado para Morrer” teve que ser interrompida depois de duas semanas de filmagens, quando ocorreu o Golpe Militar de 1964 e parte da equipe foi presa sob acusações de ser comunista.

O filme só seria completado em 1984, depois de Coutinho reencontrar negativos que haviam sido escondidos por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto como um documentário sobre o filme que não foi realizado e sobre os personagens reais que seriam os atores do primeiro projeto.

Entre 1966 e 1975, atuou principalmente como roteirista de produções como “A Falecida” (1965), “Garota de Ipanema” (1967) e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976). Em 1975, Coutinho passou a integrar a equipe do “Globo Repórter”, na qual permaneceu até 1984.

Depois de “Cabra”, Coutinho se firmou como o principal documentarista do país, com filmes que privilegiavam pessoas comuns e as histórias que elas têm para contar, como “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004) e “Jogo de Cena” (2007). Seu último longa foi “As Canções”, de 2011.

Em 2013, ao completar 80 anos, Coutinho recebeu homenagens na Festa Literária Internacional de Parati e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, cujos organizadores fizeram uma retrospectiva completa de seus filmes e reuniram em livro textos do cineasta e sobre ele.

Na ocasião, Coutinho afirmou ao UOL que o público foge de documentários. "Isso é trágico. Tem uma diferença entre ficção e documentário, e é apenas para a Ancine [Agência Nacional do Cinema]. Documentário é uma palavra maldita. Se o público cheirar documentário, ele foge. Só não foge quem não pode", afirmou.