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Filho de Eduardo Coutinho deixa delegacia e é encaminhado para prisão

Maria Martha Bruno

Do UOL, no Rio

07/02/2014 11h41Atualizada em 07/02/2014 17h30

O filho de Eduardo Coutinho, Daniel, declarado culpado pela morte do cineasta no último domingo (2), deixou às 16h40 desta sexta (7) a Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio, onde estava desde quinta-feira, quando recebeu alta do Hospital Municipal Miguel Couto.

Daniel deixou o local em uma viatura e seguiu para o Instituto Médico Legal, onde fará um exame de corpo de delito, antes de seguir para uma unidade da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro), no município de São Gonçalo, região metropolitana do estado. Lá, ele passará por uma triagem e será encaminhado a uma unidade prisional, onde deve ficar detido. Daniel, de 41 anos, teve prisão preventiva decretada pela Justiça.

No novo depoimento que deu depois de deixar o hospital, Daniel mais uma vez confessou ter matado o pai e esfaqueado a mãe, Maria das Dores Coutinho,62, e se disse arrependido do crime.

Ainda na Divisão de Homicídios, o rapaz foi novamente ouvido nesta sexta para uma avaliação complementar do seu estado psicológico -- vizinhos chegaram a alegar que Daniel sofria de esquizofrenia.

Entenda o caso
Eduardo Coutinho, 80, morreu em seu apartamento, na Lagoa, zona sul do Rio, na manhã de domingo (2). Daniel Coutinho, filho do cineasta, é apontado como responsável pelo crime. Ele foi internado no Hospital Miguel Couto com duas facadas em seu próprio abdome. A mulher de Coutinho, Maria Oliveira Coutinho, também foi ferida e está internada.

Daniel, de 41 anos, morava com os pais e foi preso em flagrante delito. Ele será indiciado por homicídio doloso, mas um juiz decidirá quais medidas serão tomadas judicialmente, já que existe a suspeita de um quadro de esquizofrenia.

Segundo o delegado, o crime aconteceu por volta das 11h de domingo. O corpo de Coutinho foi encontrado na porta de um dos quartos do apartamento. A esposa do cineasta, que também foi ferida, teria tentado se esconder no banheiro e ligar para outro filho para pedir ajuda. Após cometer os crimes, Daniel também tentou se matar.

O delegado disse que Daniel usou duas facas de cozinha nos ataques e, logo após agredir os pais, bateu na porta de um de seus vizinhos e disse: "Eu libertei meu pai, tentei libertar a minha mãe e tentei me libertar". Os bombeiros foram chamados pelo porteiro do prédio e, quando chegaram, Daniel abriu a porta do apartamento, sem demonstrar resistência à entrada deles.

Coutinho recebeu as últimas homenagens de amigos e admiradores no cemitério São João Batista, no Rio, antes de ser enterrado no mesmo local. Passaram pelo velório do documentarista personalidades da cultura como o produtor Luiz Carlos Barreto, o documentarista e jornalista João Moreira Salles, o ator Lázaro Ramos, a cantora Adriana Calcanhoto, o ator Paulo José, a atriz Camila Morgado, o diretor de fotografia Walter Carvalho e o poeta Ferreira Gullar, além de personagens retratados em seus documentários "Edifício Master" e "Babilônia 2000".

Trajetória
Nascido em 11 de maio de 1933, em São Paulo, Eduardo Coutinho abandonou o curso de direito por uma carreira no entretenimento. Depois de estudar direção e montagem na França e voltar ao Brasil em 1960, Coutinho entrou em contato com o Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE.

No CPC, o cineasta começou a trabalhar no que seria considerado seu projeto mais importante: uma ficção baseada no assassinato do líder das Ligas Camponesas, João Pedro Teixeira, com elenco formado pelos próprios camponeses do Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. A produção de “Cabra Marcado para Morrer” teve que ser interrompida depois de duas semanas de filmagens, quando ocorreu o Golpe Militar de 1964 e parte da equipe foi presa sob acusações de ser comunista.

O filme só seria completado em 1984, depois de Coutinho reencontrar negativos que haviam sido escondidos por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto como um documentário sobre o filme que não foi realizado e sobre os personagens reais que seriam os atores do primeiro projeto.

Entre 1966 e 1975, atuou principalmente como roteirista de produções como “A Falecida” (1965), “Garota de Ipanema” (1967) e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976). Em 1975, Coutinho passou a integrar a equipe do “Globo Repórter”, na qual permaneceu até 1984.

Depois de “Cabra”, Coutinho se firmou como o principal documentarista do país, com filmes que privilegiavam pessoas comuns e as histórias que elas têm para contar, como “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004) e “Jogo de Cena” (2007). Seu último longa foi “As Canções”, de 2011.

Em 2013, ao completar 80 anos, Coutinho recebeu homenagens na Festa Literária Internacional de Parati e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, cujos organizadores fizeram uma retrospectiva completa de seus filmes e reuniram em livro textos do cineasta e sobre ele.

Na ocasião, Coutinho afirmou ao UOL que o público foge de documentários. "Isso é trágico. Tem uma diferença entre ficção e documentário, e é apenas para a Ancine [Agência Nacional do Cinema]. Documentário é uma palavra maldita. Se o público cheirar documentário, ele foge. Só não foge quem não pode", afirmou.