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"A Noviça Rebelde" completa 50 anos confirmando o poder de sua música

Julie Andrews em cena de "A Noviça Rebelde" (1965) - Divulgação
Julie Andrews em cena de "A Noviça Rebelde" (1965) Imagem: Divulgação

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

02/03/2015 07h00

As montanhas ganharam vida com o som da música há exatas cinco décadas. Foi quando “A Noviça Rebelde”, musical de Robert Wise com Julie Andrews e Christopher Plummer, teve sua estreia em Nova York. Adaptação do musical da Broadway de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, que por sua vez dramatizou a história real da família Von Trapp, o filme foi inicialmente ignorado pela crítica, que depois o reconheceu como um dos grandes musicais da história, e abraçado pelo público: foi o filme que tirou “E o Vento Levou” do topo da lista das maiores bilheterias de todos os tempos, onde encontrava-se por quase trinta anos.

Nestes cinquenta anos, a influência de “A Noviça Rebelde” na cultura pop foi palpável. Não que os cinemas tenham sido invadidos por produções com freiras cantoras – “The Singing Nun”, lançado no ano seguinte com Debby Reynolds, foi um fracasso retumbante. Mas as canções do musical, traduzidas para o cinema, se tornaram o motor do sucesso do longa.

A maior prova aconteceu no palco da última cerimônia do Oscar, quando Lady Gaga, despida de sua figura extravagante e armada apenas com sua voz, liderou a homenagem da Academia ao filme --interpretando trechos de clássicos imortalizados no filme, como “The Sound of Music” e “Edelweiss”--, arrancou aplausos emocionados e, ao final, ganhou um abraço sincero da própria Julie Andrews.

Ah, Julie Andrews.... Poucas vezes personagem e atriz combinaram tão bem. Embora ela fosse a primeira escolha de Robert Wise, o estúdio não estava tão certo, mirando em outras artistas como Grace Kelly e Shirley Jones.

“Mary Poppins” ainda não havia sido lançado quando a produção de “Noviça” começou, e Wise, ao lado do roteirista Ernest Lehman, assistiram a trechos do filme na Disney: bastaram alguns minutos para o diretor saber não só que havia encontrado sua estrela, como ela seria uma das maiores do mundo assim que “Poppins” chegasse aos cinemas. E Julie Andrews foi grande, teve uma carreira brilhante, mas sua carreira nunca repetiu o auge de “A Noviça Rebelde”.

Embora tenha estourado no cinema, “A Noviça Rebelde” teve sua aura pop amplificada nos palcos. A produção original de 1959 na Broadway é montada até hoje, com um primeiro revival em Londres em 1981, seguido por um na Broadway em 1998 e um segundo na capital inglesa em 2006 – que terminou contratando uma desconhecida como protagonista, depois que negociações com Scarlett Johansson não tiveram sucesso. Além disso, “A Noviça Rebelde” já teve diferentes montagens por todo o mundo, inclusive no Brasil, com Kiara Sasso e Herson Capri, em 2008 no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Em 1992, “Mudança de Hábito” se tornou o primeiro sucesso no cinema misturando freiras e música – embora de forma radicalmente diferente que “A Noviça Rebelde”. Whoopi Goldberg interpreta uma golpista que, para fugir de trambiqueiros que querem matá-la, refugia-se num convento em Nova York. Sua chegada balança a estrutura hierárquica do lugar, já que ela assume o coral das freiras e cria um grupo vocal, retrabalhando sucessos soul como canções gospel.

O sucesso foi tamanho que Whoopi se viu na posicão de maior estrela do cinema por um par de anos, protagonizando uma continuação feita a toque de caixa e lançada no ano seguinte. Curiosamente, “Mudança de Hábito” fez o caminho inverso de “A Noviça Rebelde” e, agora, é um sucesso nos palcos.

"A Noviça Rebelde" - "Do Re Mi"

Não que “A Noviça Rebelde” fosse um musical em sua concepção. A família Von Trapp verdadeira fugiu da Europa para os Estados Unidos no auge da Segunda Guerra Mundial, e Maria, a matriarca que deixou o convento para se casar com um nobre, publicou sua história em 1949. “A Família Trapp” foi o primeiro filme baseado em sua história, uma produção alemã de 1956 que teve uma continuação dois anos depois.

A versão de Robert Wise com Julie Andrews é inspirada na vida de Maria, mas toma diversas liberdades, alterando a cronologia dos fatos e criando uma história de amor poderosa que, segundo a própria Von Trapp, era mais conveniência que um sentimento real.

A trama, porém, tem o mesmo DNA. Maria é uma noviça que passa a ser governanta da mansão de um nobre, o barão Georg Von Trapp. A educação dos sete filhos do barão, que então era viúvo, se torna leve quando Maria descobre a vocação natural de todos para a música – transformados em um grupo vocal, eles usam o poder da música para fugir dos nazistas.

Quando começou a produção de seu “A Noviça Rebelde”, Wise conversou com Maria e deixou claro que não se tratava de um documentário, e sim uma dramatização de sua história de vida –foi uma cortesia, já que ela havia vendido os direitos de seu livro em 1950 e não tinha poder de veto. Ainda assim, ela surge em uma das cenas do longa ao lado de uma de suas filhas. É a prova que a vida real, por mais fascinante, precisa do tempero da fantasia para criar uma obra eterna.