Em Cannes com "Aquarius", Maeve Jinkings "recebe o bastão" de Sonia Braga
Quando Maeve Jinkings chamou atenção como a vizinha um pouco exasperada no filme “O Som ao Redor”, pouca gente guardou esse nome estranho de origem irlandesa. Mas com este e outros filmes como “Boi Neon” e “Amor, Plástico e Barulho”, a atriz de 39 anos se tornou a musa do cinema pernambucano.
Com um pequeno detalhe: Maeve não nasceu em Pernambuco (mas em Brasília), estudou em São Paulo, morou em Belém e só há dois anos está realizando o sonho de morar no Recife. “Eu brinco que minha certidão de nascimento é de Brasília, meu RG é de Belém, minha carteira de motorista é de São Paulo e meu título de eleitor é de Pernambuco”, disse, em entrevista ao UOL em Cannes.
Maeve também estrela “Aquarius”, o novo filme de Kléber Mendonça Filho, na competição pela Palma de Ouro do Festival de Cannes 2016, que marca uma passagem de bastão no cinema brasileiro. No filme, ela vive a filha de Sonia Braga, musa dos anos 1970 com “Dona Flor e seus Dois Maridos” e outros filmes.
Em Cannes, a atriz chegou seis dias antes da sessão de gala de “Aquarius” para curtir seu lado cinéfilo –está tentando ver o máximo possível de filmes. Viu “Mademoiselle”, o novo do coreano Park Chan-Wook, do qual já era fã desde “Oldboy”, e o clássico “Solaris”, de Andrei Tarkovski, que passou em cópia restaurada na seção Cannes Classics.
Novela
Na TV, Maeve estreou há pouco com sorte. A sofrida Domingas, que apanhava do marido na novela “A Regra do Jogo” e depois encontrava seu príncipe encantado –“uma Cinderela do morro”, nas palavras dela–, mostrou-se um dos personagens preferidos do público nas pesquisas de audiência e foi ganhando espaço ao longo da trama.
“Foi uma surpresa, eu não conseguia acreditar. Ganhei cenário, restaurante, até cena no último capítulo, o que é um luxo”, brinca. “O público se ligou muito na história de violência doméstica da Domingas.”
Política
O impeachment de Dilma Roussef e a extinção do Ministério da Cultura devem marcar a divulgação de “Aquarius” em Cannes, e Maeve junta-se ao grupo expressivo de atores, diretores e produtores que protestam, dentro e fora do festival, contra a nova situação.
“É um paradoxo tão grande estar em Cannes representando o cinema nacional nesse momento", afirma. "Existe um trabalho colossal por trás dessa seleção do filme em Cannes. O cinema só está produzindo uma média de 130 longas por ano porque tivemos leis de incentivo”, defende. “Na última vez em que sofremos um grande baque, na era Collor, produzimos um ou dois filmes por ano apenas. Não podemos nunca voltar a isso”.
No segundo semestre, tem mais Maeve no cinema pernambucano. Ela vai aparecer na pele da dona de um engenho decadente em “Açúcar”, novo longa de Renata Pinheiro, que dirigiu “Amor, Plástico e Barulho”.
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